Lucas Koo (nº 124) disputa prova de patinação em pista curta nos Estados Unidos (Arquivo Pessoal) |
Quando tinha 4 anos, Lucas Koo viu com a família um anúncio para aprender a patinar no gelo. A ideia era ser uma experiência divertida, mas as aulas, na verdade, eram de patinação em pista curta. Sim, uma das modalidades mais rápidas e radicais dos Jogos Olímpicos de Inverno, em que quedas e empurrões são constantes com lâminas nos pés.
Eu caí tantas vezes porque a lâmina era tão diferente. Porém, eu simplesmente adorei a sensação de patinar no gelo, a velocidade... parecia que eu estava flutuando! A partir daquele momento eu nunca mais parei!
Hoje, aos 15 anos, Lucas Koo é o responsável por recolocar o nome do Brasil na modalidade. Após conseguir suas melhores marcas no US Fall World Cup Qualifier na pista de Salt Lake City, em setembro de 2022, ele garantiu o índice para as principais disputas, como a Copa do Mundo, o Four Continents e do Mundial Júnior nesta temporada.
Assim, o jovem, que imaginava os atletas de patinação em pista curta como "águias" que sobrevoavam o gelo, também está pronto para voar. As próximas semanas serão intensas: disputa da Copa do Mundo em Salt Lake City entre 4 e 6 de novembro de 2022, e do Four Continents, na mesma pista, entre 10 e 12 de novembro.
Depois, entre 27 e 29 de janeiro de 2023, Lucas estará no Mundial Júnior da modalidade, em Dresden, na Alemanha. O objetivo? Buscar a classificação para os Jogos da Juventude de Inverno de 2024, em Gangwon, na Coreia do Sul.
Depois disso, só Deus sabe! Espero continuar patinando e classificar para os Jogos Olímpicos, o sonho final!
Amor pelo Brasil marca trajetória da família
Como tantos outros atletas do Brasil nos esportes de inverno, Lucas não nasceu no país. Ele é natural de Rochester, nos Estados Unidos, filho do brasileiro Michel Koo. A questão é que ele próprio não nasceu aqui. É natural da Alemanha com pais sul-coreanos que saíram da Coreia pós-guerra nos anos 1950. Com cinco anos, a família inteira se mudou para o Brasil.
Mas se faltam laços sanguíneos, sobram raízes afetivas para toda a família. Foi no Brasil que Michel cresceu, fez amigos e construiu parte de sua carreira, antes de se mudar para os Estados Unidos - atualmente é professor da Universidade da Pensilvânia. Entusiasmo que justifica sua paixão brasileira e que acabou passando para o filho Lucas.
O Brasil sempre tem sido parte da minha vida. Antes da pandemia, eu viajava regularmente para São Paulo, onde meus avós, primos, tios e tias moram. Adoro a comida, o clima e a energia positiva do Brasil. Além disso, o meu pai é um brasileiro com muito orgulho do país. Obviamente, isto pesou bastante. Quando surgiu a oportunidade de representar o país, todos estes aspectos influenciaram na minha decisão. Porém, o que me motivou mais foi o fato do Brasil não ter ainda uma grande representatividade nos esportes de gelo. Quero ajudar nesse processo e abrir portas para divulgar a patinação em pista curta. Se eu puder ajudar a popularizar o esporte, seria fantástico!
Desafios e motivação marcam desejo pelo Brasil
Tanto que Lucas Koo pode ser encarado como um típico adolescente brasileiro. Gosta de visitar a Praia de Camburi, em São Sebastião, e adora frequentar feiras para comer pastéis - também ama pão de queijo e misto quente. É fã de Fórmula 1, de videogame, de skate (tem dois personalizados) e de customizar seus tênis.
Lucas Koo aos 4 anos, no primeiro treino de patinação em pista curta (Arquivo Pessoal) |
A diferença, claro, é que agora ele tem a chance de retribuir esse amor em um esporte de inverno como a patinação em pista curta. A possibilidade apareceu após conversar com Larissa Paes, atleta da patinação de velocidade em pista longa do país, durante encontro em Salt Lake City. Foi ela a primeira a encorajá-lo a representar o Brasil na modalidade. Depois, o apoio da CBDG com a burocracia e documentação para filiação na ISU também se revelou fundamental.
Obviamente, ser o único patinador do Brasil significa que não terei companheiros de equipe, Às vezes, eu gosto de ter colegas para treinar e competir juntos. Um ambiente competitivo é importante para um patinador se desenvolver e melhorar. Felizmente, meu atual clube tem muitos atletas na minha faixa etária, então eu posso continuar me esforçando para melhorar e ser mais competitivo, ao mesmo tempo que desenvolvo a camaradagem. Por outro lado, ser o único patinador do Brasil me motiva para patinar bem e ter certeza de que posso representar o país de forma positiva! Eu darei sempre o meu melhor para representar o Brasil bem nas competições
Treino na Coreia do Sul e três horas de viagem nos fins de semana
Com o intuito de melhorar cada vez mais na modalidade, Lucas Koo resolveu visitar a principal potência: a Coreia do Sul. O país asiático conquistou nada menos do que 26 das 65 medalhas de ouro distribuídas em toda a história dos Jogos Olímpicos de Inverno - o equivalente a 40%. É de lá que saem os principais atletas e treinadores do mundo.
Foram duas visitas distintas. A primeira durou apenas um mês em 2016. "Eu tive que reaprender toda minha forma e técnica, mal conseguia patinar no gelo!", comentou. Em 2019 ficou três meses. O jovem brasileiro aprendeu sobre a forma correta do posicionamento e movimentos do corpo, além de se encantar com a quantidade de pessoas experimentando a patinação em pista curta.
Meu pai fez a analogia perfeita: é como futebol no Brasil. Ele me falou que enfatizam também a técnica mais do que tudo, como na pista curta na Coreia do Sul, e literalmente há milhões de pessoas jogando futebol e tentando chegar aos principais clubes e à seleção nacional
Foi justamente nessa época que Lucas e a família tiveram que tomar uma decisão difícil. Estava claro que ele não conseguiria competir e evoluir com os demais atletas se treinasse apenas duas vezes por semana. Dessa forma, pediu aos pais se poderia abandonar as demais atividades que fazia e focar apenas na patinação e nas notas nas escolas.
Ganhou o voto de confiança. Mesmo morando com a família na Filadélfia, durante a semana ele faz duas sessões de treinos no gelo em Nova Jersey, a uma hora e meia de carro da sua casa. No fim de semana (sexta, sábado e domingo), são mais três dias de treino no Potomac Speedskating Club, um dos locais mais importantes do esporte nos Estados Unidos e localizado a três horas de viagem.
O esforço valeu a pena. Nos últimos anos, Lucas conquistou medalhas de ouro e pódios em várias corridas que participou. Esteve presente no Age Group Nationals nos últimos quatro anos e, na temporada passada, foi o quarto colocado em sua faixa etária. Neste ano, já como atleta brasileiro, garantiu a classificação para a Copa do Mundo mesmo com 15 anos.
Brasil volta a ter representante na patinação em pista curta após 15 anos
Lucas Koo é o primeiro atleta a representar o Brasil na patinação em pista curta desde a restruturação da CBDG há dez anos, mas ele não é o primeiro brasileiro na história da modalidade. Entre 2004 e 2007, o país contou com Felipe de Souza na disputa das principais competições do calendário internacional.
Felipe esteve presente nas temporadas 2004/2005 e 2005/2006 da Copa do Mundo, quando tentava a classificação aos Jogos Olímpicos de Inverno de 2006, em Turim, na Itália. Ele participava basicamente de duas provas: 500 metros e 1000 metros. Seu melhor desempenho foi nos 500 metros da temporada 2006, quando foi o 49º na classificação geral.
Ele também participou do Mundial adulto da modalidade em 2007. Foi o 42º nos 500 metros, 47º nos 1000 metros e 53º nos 1500 metros, além de 51º na classificação final. Dois anos depois, ele migrou para a patinação de velocidade e se tornou também no primeiro brasileiro a competir na patinação de velocidade em pista longa.
Lucas Koo, o terceiro da esquerda para direita, durante a classificatória em setembro (Arquivo Pessoal) |
Postar um comentário