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| Natalia Pallu Neves e Jayin Panesar representarão o Brasil na Dança no Gelo em 2023 (Arquivo Pessoal) |
Não é exagero dizer que é uma brasileira que nasceu em Londres. Tanto que, mesmo morando com a família na Inglaterra, ela se acostumou desde pequena a passar as férias escolares entre Salvador e Curitiba, as cidades de seus pais. Restava apenas representar o país na patinação artística, esporte que pratica desde a adolescência. Mas para Natalia Pallu Neves e Jayin Panesar isso não é mais problema a partir de 2023.
A atleta de 18 anos e seu parceiro, prestes a fazer 19 anos em outubro de 2022, optaram por defender o Brasil na Dança no Gelo a partir desta temporada. Como eles já eram filiados ao Reino Unido na ISU (União Internacional de Patinação), precisam esperar um ano antes de competir pelo novo país. O período de isolamento termina em fevereiro de 2023.
Eu estou bastante empolgada. Não tem tanta pressão por causa da situação, então vamos aproveitar mais. É algo único para a gente. Poder patinar pelo Brasil, é uma grande oportunidade (Natalia Pallu Neves)
O retorno de Natalia Pallu Neves e Jayin Panesar deve acontecer durante o Egna Dance Trophy, na cidade italiana de Egna entre 9 e 12 de fevereiro. Uma semana depois, eles devem competir no Sarajevo Open, na capital da Bósnia e Herzegovina. Antes, em janeiro, devem participar de uma prova fora do calendário da ISU em Oberstdorf, na Alemanha.
Eles correm contra o tempo porque possuem um objetivo ousado mesmo estreando no fim da temporada: querem tentar a classificação para o Mundial Senior de patinação artística de 2023, em Saitama, no Japão. Para isso, precisarão de 33 pontos nos elementos técnicos da Dança Rítmica e de 49 pontos na parte técnica da Dança Livre.
Natalia Pallu Neves e Jayin Panesar têm caminhadas semelhantes
As trajetórias dos dois jovens atletas se convergiram para que eles formassem uma dupla na Dança no Gelo. Ambos tiveram outros parceiros e buscavam novos ares na modalidade. Ela, inclusive, chegou a conquistar duas medalhas de bronze na categoria júnior no Campeonato Britânico em 2018 e 2019 ao lado de Frank Roselli.
Natalia Pallu Neves e Jayin Panesar estabeleceram a parceria no meio da pandemia de covid-19 - e estrearam oficialmente apenas na temporada 2021/2022. A dupla conquistou nova medalha de bronze no Campeonato Britânico e chegou a participar de três torneios internacionais, incluindo o Junior Grand Prix em Courchevel, na França.
O novo momento coroa uma década de dedicação ao esporte. Natalia se encantou ao ver um rink de patinação quando criança e levou mais de um ano par convencer a mãe a fazer aulas. Tinha sete anos e até os 13 anos intercalava dança no gelo com a disputa individual até se dedicar exclusivamente à primeira categoria.
Jayin, por sua vez, também tinha por volta de sete anos quando começou a ter aulas em um rink em Londres. Inicialmente ele focava no hóquei no gelo, mas depois migrou para a patinação artística e tentou a Dança a convite de um treinador. "Não tinha objetivo, estava aprendendo e comecei a gostar bastante", comentou o jovem ao Brasil Zero Grau.
A escolha pelo Brasil
Natalia sempre pensou em representar o Brasil, mas havia um problema: a sua dupla deveria aceitar essa condição. "O meu outro par não queria, falava que não era o país dele, então foi uma situação bem complicada e aceitei naquele momento. Não iria funcionar com ele", comentou.
Mas quando Natalia Pallu Neves e Jayin Panesar estabeleceram essa parceria, a oportunidade voltou - e dessa vez com apoio do novo parceiro. Ele chegou na hora certa: a brasileira cogitava até parar com o esporte porque conciliava os treinos com os estudos numa rotina que não estava funcionando direito com a antiga dupla.
Quando ela apresentou essa possibilidade, eu falei que poderia patinar por outro país. Mas fiquei surpreso sim em ter a chance de competir pelo Brasil (Jayin Panesar)
O empurrão que faltava para Natalia Pallu Neves e Jayin Panesar
Faltava apenas um empurrãozinho para que a dupla resolvesse trocar de cidadania na ISU - que veio na última temporada. Medalhistas de bronze na categoria júnior do campeonato britânico, os jovens queriam participar de mais eventos internacionais. A federação do Reino Unido, contudo, não ofereceu essas condições.
"Não tivemos suporte para ter sucesso. Assim, a temporada ficou bem difícil. A federação não ajudou em nada", explica a brasileira. Dessa forma, antes do Natal de 2021, Natalia Pallu Neves e Jayin Panesar decidiram tirar essa possibilidade do papel e procuraram a CBDG para representarem o Brasil internacionalmente.
"A gente ama esse esporte, mas se perguntava porque continuar diante de tudo isso. O Jayin queria muito competir pelo Brasil, mas eu ainda estava reticente. Porém, estava certa que não voltaria mais para a federação da Grã-Bretanha", prosseguiu Natalia.
Agora, o objetivo dos jovens para este ciclo é um só: tentar a vaga olímpica para os Jogos de Inverno de 2026, nas cidades italianas de Milão e Cortina d'Ampezzo. Para essa temporada, escolheram uma combinação de duas músicas do Prince (Kiss e 1999) com Nothing Compares 2 U, clássico de Sinead O'Connor. A ideia é se preparar bem para entrar em alta a partir da próxima temporada.
Estamos fazendo isso, preparamos um novo Free Dance e queremos construir nosso nome. Vamos um ano após o outro e mostrar que podemos representar o Brasil. Nasci em Londres, mas sou brasileira e contamos com o suporte de todos
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