Marina Tuono é a primeira atleta do Brasil no Monobob feminino (Divulgação/CBDG) |
Em julho de 2018, o Comitê Olímpico Internacional surpreendeu a todos ao incluir a disputa feminina do Monobob, uma variação do Bobsled, na próxima edição dos Jogos de Inverno, em 2022. A decisão levantou a discussão sobre equidade de gênero e, ainda que algumas atletas não tenham ficado satisfeitas, abriu uma nova possibilidade para o Brasil.
Com mais uma possibilidade de classificação olímpica, o país
resolveu iniciar um projeto voltado exclusivamente ao Monobob feminino. A
escolhida neste início de trabalho é Marina Tuono, integrante do time de
bobsled de Heather Paes na temporada 2017/2018 e que iria migrar para o
skeleton neste ano.
Isso mesmo, iria migrar. Ela até iniciou os treinos na nova
modalidade em março, mas o anúncio do COI fez a CBDG rever seus planos. Por que
deixar duas atletas no Skeleton [Nicole Silveira também foi recrutada] se a
entidade poderia tentar a vaga olímpica em duas modalidades diferentes?
Dessa forma, a partir de novembro de 2018, Marina Tuono iniciou
os treinamentos nas escolas de Monobob no Canadá e Estados Unidos. Ela já fez
treinos nas pistas de Calgary e Park City entre novembro e dezembro – nada mal
para quem sequer conhecia o Bobsled três anos atrás.
Para ser honesta, eu nem sabia o que era bobsled direito. Ainda hoje quando eu vejo onde estou meio que me pergunto: 'como que cheguei nesse lugar?'. É um mundo diferente, um esporte que me encanta a cada temporada
O convite surgiu quase ao acaso. Sempre ligada ao esporte,
Marina foi ginasta por quase 13 anos, tanto na artística quanto na acrobática.
Saiu da modalidade aos 19 anos, mas não do esporte. Começou a praticar crossfit pela facilidade de conciliar
com a faculdade de Direito e o estágio.
Entretanto, nesse período, o personal trainer de seu tio estava no Canadá treinando no Bobsled e
comentou que a equipe feminina liderada por Heather Paes precisava de uma break-woman. Ele acreditava que a jovem
poderia se dar bem no esporte e, assim, ela foi apresentada ao Bobsled e passou
a ser integrante da equipe brasileira que buscava a vaga aos Jogos Olímpicos de
PyeongChang.
Marina em uma das escolas de pilotagem do Monobob (Girts Kehris) |
A classificação olímpica não veio, mas abriu portas. Convicta de que o Direito não era o que realmente amava, esticou sua estadia no Canadá por mais um ano. A CBDG propôs o Skeleton em março, mas a adesão do Monobob aos Jogos Olímpicos a fez mudar novamente seus planos e, finalmente, a se encontrar no esporte.
A adaptação foi até tranquila. Mesmo não sendo uma corredora
nata, característica número um de quem migra para os esportes de trenó, ela
conseguiu se adaptar bem ao Monobob. A quantidade de descidas e o fato da
modalidade ser uma novidade até mesmo para quem já pratica essas atividades
ajudaram na transição da brasileira.
O monobob é uma nova modalidade para as mulheres e todo o mundo está no mesmo nível em relação às regras e competições. Isso traz uma vantagem para nós, brasileiros, que queremos nos desenvolver nos esportes de inverno. O mundo inteiro está começando do zero no monobob
Contudo, ela ainda tem muito trabalho pela frente. O
objetivo, claro, é chegar aos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2022. Para isso,
Marina sabe que precisa não apenas se adaptar ao Monobob, como também atingir
um nível satisfatório para conseguir uma das vagas disponíveis (o COI e a IBSFnão comunicaram o número de cotas)
Neste ano, o foco é fazer o maior número de descidas
possível justamente por estar começando na modalidade. Dessa forma, ela irá
participar das escolas de pilotagem na América do Norte. Na próxima temporada,
a ideia é fazer duas competições e se especializar em uma pista específica no
Canadá ou Estados Unidos.
Além disso, ela vai intensificar os treinos de corrida
durante o verão para melhorar seu push,
item mais do que essencial no Monobob – afinal, a atleta vai ser a única
responsável pela arrancada do trenó no momento da largada. Mesmo assim, o
otimismo é grande para este ciclo olímpico.
Estou bem animada para ver onde vou chegar. Meu coach [Bryan Berghorn] está dando ótimos feedbacks e isso me traz confiança de que irei me desenvolver bem nos próximos anos se eu me manter focada e dedicada no esporte
Por ser uma modalidade ainda nova, a IBSF ainda não definiu
nem mesmo um calendário de competições. Nesta temporada, por exemplo, a
entidade vai organizar quatro corridas (três na Europa e uma na América do
Norte), mas sequer há um ranking internacional para classificar as
competidoras.
A expectativa é que, a partir da próxima temporada, o
Monobob seja incluído nas principais competições da IBSF (os torneios
continentais na América do Norte e Europa e a Copa do Mundo) – para que a
brasileira Marina Tuono possa continuar desbravando situações ainda inéditas
para o Brasil.
Marina Tuono com o Monobob da IBSF |
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