Presidente Sergio Böhm durante celebração dos 15 anos do Eisstocksport no Brasil (Divulgação) |
Em julho de 2018, o Eisstocksport conseguiu dar um passo importante rumo a um sonho antigo de seus praticantes. A modalidade foi reconhecida pelo COI e faz parte da "Família Olímpica". Ela ainda não faz parte do programa olímpico de inverno, mas a partir de agora pode receber financiamentos da organização para desenvolver o esporte em todo o mundo.
A tão aguardada notícia foi um dos pontos altos na temporada do Eisstocksport brasileiro. O ano, que começou com uma participação histórica no Mundial, em março, fez com que a modalidade alcançasse um novo status dentre todos os esportes de inverno praticados no país - justamente quando completou 15 anos de existência por aqui.
Jogos Olímpicos, participação histórica no Mundial, 15 anos de existência... Motivos não faltavam para uma grande celebração entre os praticantes e clubes que mantêm o Eisstocksport no Brasil em Santa Cruz do Sul e Lajeado, cidades do Rio Grande do Sul responsáveis pelo desenvolvimento da modalidade.
Foi o que ocorreu em outubro, durante a festividade do Oktoberfest em Santa Cruz do Sul. A Federação Gaúcha Desportiva de Eisstocksport transformou o Torneio Internacional do Oktoberfest, que reúne equipes do Paraguai, em uma grande festa para comemorar o passado - e celebrar o futuro - do esporte.
Entre as autoridades presentes estavam a CBDG, entidade máxima dos esportes de gelo e também interessada no sucesso do Eisstocksport, políticos da região e jornalistas. O Brasil Zero Grau foi convidado e também homenageado por ser a primeira mídia fora do Rio Grande do Sul a noticiar os feitos do esporte.
Na festa, entre todas as homenagens, discursos e o jantar, duas situações foram os maiores destaques entre todos os presentes. A primeira foi a homenagem aos "Cowboys do Asfalto", apelido da primeira equipe que representou o Brasil no Mundial de Eisstocksport, em 2004. O segundo foi o discurso de Matheus Figueiredo, presidente da CBDG, que encheu de confiança o esporte na luta pelo reconhecimento olímpico.
"O sonho de vocês é o nosso sonho também e espero contribuir para que se torne realidade", comentou o dirigente esportivo.
Quanto ao Brasil Zero Grau, mais do que acompanhar in loco pela primeira vez uma competição de Eisstocksport, era descobrir os segredos de seu sucesso no cenário internacional. Como atletas que sequer possuem gelo para treinarem conseguem competir em um alto nível diante das principais potências do esporte?
Contudo, vi muito mais do que isso. Mesmo sem fazer parte das Olimpíadas de Inverno, o Eisstocksport pode ser considerado como um dos esportes que mais incorporam os valores olímpicos em sua prática. É algo que faz parte da cultura dos seus atletas e equipes e foi totalmente absorvido, até de forma inconsciente, pelos brasileiros.
Os conceitos de Amizade, Respeito e Excelência norteiam todas as decisões referentes ao Eisstocksport no Brasil, desde a preparação para os campeonatos até mesmo à competição em si. Poucos esportes mostram uma adaptação tão grande àquilo que o COI considera como exemplo para a prática esportiva. Sem dúvida, um ponto importante que será levado em consideração pela entidade quando for definir o programa olímpico de inverno no futuro.
A Amizade
O Centro Cultural 25 de Julho, sede do Torneio Internacional da Oktoberfest, possui três canchas para a prática da modalidade (uma quarta está sendo construída para 2019). Contudo, o que chama a atenção da estrutura destinada aos atletas é uma casinha que fica logo na entrada das pistas: uma cozinha e espaço de confraternização para os atletas.
"Montamos uma pequena cozinha para que os atletas possam descansar durante os treinos e competições. Costumamos treinar juntos e aproveitamos para fazer um grande jantar para todos", comenta Sergio Böhm, presidente da Federação Gaúcha Desportiva de Eisstocksport.
A iniciativa é replicada nos demais clubes que integram a entidade. O objetivo, claro, é promover uma maior integração entre todos os atletas e estimular o clima de amizade não apenas entre os praticantes, mas também entre os parceiros. Solenidades políticas fazem parte do dia a dia do esporte e até mesmo um torneio criado exclusivamente para jornalistas fazem parte da meta de estimular um bom convívio com os parceiros.
Dessa forma, o Eisstocksport brasileiro consegue manter uma união importante que ajuda o esporte andar em momentos decisivos, como busca por patrocinadores e definição de calendário. Hoje, por exemplo, a Federação fecha 2018 com quatro clubes filiados e mais de 100 jogadores que participam de diversas competições ao longo do ano. Mais do que rivais, eles formam uma grande comunidade.
O Respeito
O Torneio Internacional da Oktoberfest não conta apenas com a participação de atletas brasileiros. Equipes do Paraguai, outro país da América do Sul que pratica o esporte, também participam do evento - e retribuem o convite com o Torneio da Amizade, normalmente no primeiro semestre do ano.
Desde o início, o Eisstocksport brasileiro procurou estreitar os laços com demais países americanos que são filiados à IFI, sigla para a federação internacional. Isso explica, por exemplo, a criação da Copa América, que envolve também equipes do Canadá, Guatemala e Estados Unidos. O respeito à diferença e, principalmente, a valorização do intercâmbio, essencial para qualquer modalidade esportiva crescer.
A Federação Gaúcha Desportiva também preza pela representatividade e respeito com seus filiados. O campeonato gaúcho, principal torneio do calendário brasileiro, é dividido em etapas que passam em todas as canchas dos clubes participantes - e a etapa decisiva é realizada em um lugar diferente a cada ano.
A Excelência
Por fim, não podemos nos esquecer que se trata de um esporte e, portanto, envolve competições, busca por recordes e a melhor forma física. O Torneio Internacional de Eisstocksport normalmente fecha a temporada do esporte no Brasil e é a última chance que os atletas têm de melhorar suas marcas e conquistar títulos.
O Eisstocksport brasileiro evoluiu não apenas por formar uma comunidade unida de adeptos ou respeitar o jogo, mas porque treina forte para isso. Se os atletas ainda são amadores (no sentido de que não se dedicam exclusivamente à modalidade), é inegável que eles se planejam para conseguirem obter resultados melhores.
No Centro Cultural 25 de Julho, os atletas do clube treinam, pelo menos, duas vezes por semana - há quem treina até quatro vezes no período. Essa rotina é seguida à risca pelos outros clubes. Além disso, a Federação Gaúcha mantém um calendário estruturado que contempla torneios em praticamente todos os meses do ano, permitindo que as pessoas estejam em constante crescimento.
Isso ajudou a Eduardo Schuster, por exemplo, quebrar o recorde de acertos na passagem Individual por Equipe no último Mundial. No Torneio Internacional durante o Oktoberfest foi a vez do jovem Luiz Eduardo Kaufmann estabelecer seu novo recorde pessoal também durante a disputa individual.
"Eu gosto de treinar e sei o quanto isso me ajuda. Hoje, o Eisstocksport brasileiro subiu de nível e devemos manter essa evolução cada vez mais", concluiu Schuster.
Competição por equipes no Torneio Internacional da Oktoberfest (Brasil Zero Grau) |
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