Thomas Bach na Cerimônia de Encerramento dos Jogos Olímpicos de Inverno de PyeongChang (Greg Martin/IOC) |
O maior pesadelo do COI (Comitê Olímpico Internacional) está se materializando mais uma vez. Um mês após a cidade suíça de Sion abdicar da disputa pela sede dos Jogos de Inverno de 2026, mais um município resolve deixar o processo seletivo. Graz, na Áustria, não aguentou a pressão de oposicionistas e deixa a escolha limitada a cinco candidatas até o momento.
Calgary (Canadá), Sapporo (Japão), Estocolmo (Suécia), Erzurum (Turquia) e uma cidade italiana ainda não definida seguem no páreo para sediarem a competição poliesportiva. O processo seletivo segue no "estágio do diálogo" até janeiro de 2019, quando se inicia o "estágio da candidatura" e as interessadas devem enviar seus projetos para análise.
O mais curioso é que Graz, que realizaria em conjunto com Schladming, sequer esperou um referendo para desistir da candidatura. O Partido Comunista Austríaco, opositor à campanha, conseguiu coletar mais de 11 mil assinaturas da população local, o suficiente para levar a decisão aos habitantes - e assustar os organizadores.
Essa foi a segunda desistência austríaca na escolha da sede dos Jogos Olímpicos de 2026. Innsbruck, que recebeu as Olimpíadas de Inverno em 1964 e 1976, demonstrou interesse em se candidatar, mas um referendo mostrou que 53% da população era contrária à ideia e fez a cidade desistir antes mesmo de se inscrever. O Comitê Olímpico Austríaco tentou incluir Graz, mas sai definitivamente da disputa agora.
Com duas desistências em um período de um mês e com prováveis referendos nas outras cidades, este processo seletivo fica novamente sob desconfiança e, pior, com chances reais de entrar em colapso antes mesmo do "estágio da candidatura", em janeiro de 2019. Confira um resumo do estado atual de cada uma das cinco sobreviventes:
- Calgary (Canadá): a cidade começa a dar sinais de divisão. Se em março 57% da população apoiava a ideia, esse número caiu para 50% agora em julho. Semana que vem haverá reuniões no Conselho da cidade com membros do COI para debater a proposta de candidatura. Em novembro é o teste definitivo: um referendo com os habitantes para determinar o apoio à proposta. Assim, a campanha a favor da sede deve evitar essa queda se quiser garantir a sobrevida no processo seletivo.
- Sapporo (Japão): os próprios organizadores da campanha já afirmaram que preferem esperar até 2030 para o evento não ficar próximo dos Jogos Olímpicos de Verão de Tóquio, em 2020, e para esperar a malha ferroviária que deverá ser entregue pelo governo japonês depois de 2026 - o que reduziria os gastos da candidatura. Por enquanto, a cidade japonesa segue na disputa, mas dificilmente passará ao "estágio de candidatura".
- Estocolmo (Suécia): outra candidatura que sobrevive sem qualquer motivo aparente. O próprio prefeito já descartou a candidatura e o Comitê Olímpico Sueco incluiu a cidade mesmo assim. A campanha de Estocolmo não tem apoio governamental, mas os organizadores esperam pela eleição em outubro no país escandinavo: uma troca política pode impulsionar a ideia. Caso contrário, morrerá em janeiro de 2019 no "estágio da candidatura".
- Cortina D'Ampezzo, Turim ou Milão (Itália): o Comitê Olímpico Italiano deveria escolher nesse mês qual das três cidades seria a líder do projeto de candidatura para os Jogos de 2026. Contudo, a organização adiou a decisão para setembro, o que atrasa ainda mais o projeto. A boa notícia é que o governo italiano vai apoiar a escolha. A má é que as três cidades possuem uma oposição organizada à ideia de sediar as Olimpíadas.
- Erzurum (Turquia): por fim, a cidade turca é a única que possui apoio governamental e civil para sediar os Jogos Olímpicos de Inverno de 2026. A Turquia sempre tentou, mas nunca conseguiu, sediar a edição de verão nas últimas candidaturas. Contudo, pesa contra a candidatura a proximidade com a Síria e o Iraque e a própria agitação social no país com protestos contra e a favor do presidente Recep Erdogan.
Como se vê, o quadro não é favorável e abre-se a possibilidade de restar apenas Erzurum na disputa pela sede dos Jogos Olímpicos de Inverno de 2026. O fato é que o próprio COI já começa a pensar em uma virada de mesa no processo de escolha. Barcelona, que demonstrou interesse em sediar os Jogos de 2030, já se colocou à disposição do Comitê Olímpico caso precise de alternativa para a edição de 2026.
"Estamos abertos a 2026 se o COI solicitar", comentou Gerard Figueras, diretor-geral de esportes na Catalunha durante visita de Juan Antonio Samaranch, vice-presidente do COI, e Pere Miró, diretor adjunto do comitê.
A entidade também já discutiu a ideia de solicitar ao Comitê Olímpico dos Estados Unidos a antecipação da candidatura norte-americana de 2030 para 2026 - a cidade ainda não foi definida. Como última medida, o COI também disponibilizou o novo contrato de cidade-sede, com economia de US$ 500 milhões com sistema de hospedagem e um aporte de US$ 925 milhões para a escolhida - tudo para seduzir as candidatas.
O Comitê Olímpico Internacional sabe que precisa se mexer para evitar o fiasco da candidatura dos Jogos de 2022. Na ocasião, as cidades europeias começaram a desistir e sobraram apenas Pequim (China) e Almaty (Cazaquistão). A organização chegou a lançar a Agenda 2020 e reformular o processo seletivo, mas, pelo visto, não está surtindo o efeito esperado.
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