A partir de hoje, vou trazer algumas das histórias mais fantásticas de PyeongChang e que extrapolaram a competição esportiva. Talvez a mais importante, em minha opinião, tenha sido o time unificado da Coreia no hóquei no gelo. Pela primeira vez na história, Norte e Sul se uniram para competirem juntas em uma edição dos Jogos Olímpicos. Tive o privilégio de assistir três dos cinco jogos da equipe em PyeongChang e o feito obtido pelas 35 jogadoras (23 sul-coreanas e 12 norte-coreanas) pode ser lido agora:
Equipe unificada da Coreia no hóquei feminino foi a grande atração dos Jogos de PyeongChang |
Coreias afinam diálogo no hóquei para facilitar reaproximação diplomática
Os encontros, declarações e acordos foram substituídos por tacos e pucks, o famoso disco do hóquei no gelo. As duas Coreias escolheram o tradicional esporte de inverno para manter a reaproximação entre os dois países após os Jogos Olímpicos de PyeongChang e, para isso, contam com o sucesso da equipe feminina unificada na competição.
Pela primeira vez na história, a Coreia do Norte e a do Sul montaram um time misto em uma competição olímpica. Em janeiro, doze atletas norte-coreanas foram integradas à seleção sul-coreana e inscritas nos Jogos Olímpicos com anuência da IIHF (Federação Internacional de Hóquei no Gelo) e COI (Comitê Olímpico Internacional). Ao menos três delas foram escaladas em todos os jogos da equipe no torneio.
No total, a equipe unificada da Coreia fez cinco jogos, três pela fase de grupos e dois nos playoffs, e perdeu todos. Foram 28 gols sofridos e apenas dois marcados - comemorados efusivamente pelos torcedores presentes na arena (incluindo este repórter). É um desempenho pouco louvável, mas os feitos obtidos pela equipe fora do gelo sobrepõem o aspecto esportivo.
A popularidade alcançada pelo time não só em PyeongChang, mas também em todo mundo, fez com que iniciassem conversar para manter a seleção unificada da Coreia do Sul e do Norte nas próximas competições de hóquei no gelo - ou pelo menso manter os dois grupos próximos um do outro. O objetivo é utilizar o sucesso dessa equipe para expandir a iniciativa em outras modalidades e servir de inspiração para outras atividades.
"Somos mais fortes como um único time do que divididas. Como time unificado, espero que possamos crescer juntas. Nós podemos nos destacar enquanto time não só no esporte, mas em outras áreas também", afirmou Su Yon Jong, norte-coreana que conduziu a tocha olímpica na Cerimônia de Abertura, no dia 9 de fevereiro. A atleta, porém, recuou sobre uma possível reaproximação política entre as Coreias. "Como atleta, não respondo essa pergunta porque meu foco está no esporte".
O fato é que as partidas de hóquei no gelo promoveram um encontro histórico entre Moon Jae-in, presidente da Coreia do Sul, com Kim Yo-jong, irmã do líder norte-coreano Kim Jong-un, e Kim Yong-nam, chefe de estado da Coreia do Norte. Ela convidou a autoridade sul-coreana a visitar Pyongyang, capital do Norte, para conversar com o irmão em uma data conveniente - no que pode ser o primeiro encontro entre as principais autoridades dos dois países desde 2007.
Coreias desfilaram juntas na Cerimônia de Abertura dos Jogos Olímpicos de PyeongChang |
No gelo, a treinadora norte-americana Sarah Murray faz a parte dela. Após a experiência de dirigir um grupo inchado (35 jogadoras, sendo que 12 delas nunca havia visto na vida), ela quer intensificar a aproximação entre os dois países - pelo menos na parte esportiva. "É difícil dizer adeus. Eu espero que a gente consiga manter essa conexão, seja com amistosos ou períodos de treinos em conjunto".
A aproximação e o entrosamento entre as jogadoras foram nítidos ao longo dos 17 dias de competição em PyeongChang. Diferentemente dos outros países, as atletas da Coreia do Norte não ficaram hospedadas com as sul-coreanas na Vila Olímpica - o que fez com que elas dividissem apenas as refeições. Mesmo assim, durante o último treino, todas as jogadoras trocaram abraços e fotos.
"Elas são pessoas como eu e você. Durante as refeições a gente acaba conversando sobre assuntos em comum, como hóquei e namorados. Eu já até escutei algumas jogadoras falando face-off e outros termos em inglês", brincou Randi Griffin, norte-americana que possui dupla cidadania e joga pela Coreia do Sul. Foi dela o primeiro gol da equipe unificada em PyeongChang.
A tendência, agora, é outras modalidades seguirem o exemplo e promoverem times mistos da península coreana. A IBSF (Federação Internacional de Bobsled e Skeleton), por exemplo, chegou a propor que o quarteto sul-coreano de bobsled também contasse com atletas da Coreia do Norte - mas a proposta não seguiu adiante. Procurada pelo Brasil Zero Grau, a federação sul-coreana não quis se pronunciar. O time da Coreia do Sul conquistou uma inédita medalha de prata no 4-man.
"Há diferenças e é desafiante, mas melhoramos com o passar dos dias. Todas falamos a mesma língua e temos a mente voltada a um só objetivo: fazer o nosso melhor jogo e conseguir o melhor para toda a equipe", concluiu Jong.
Equipe coreana com Thomas Bach antes do primeiro jogo da equipe em PyeongChang |
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