Uma participação inédita da Jamaica no Bobsled feminino exatamente trinta anos após a estreia do país em Jogos Olímpicos de Inverno (eternizado pelo filme Jamaica Abaixo de Zero). Além disso, uma norte-americana filha de jamaicano decide competir pela ilha do Caribe para servir de exemplo a meninos e meninas negras. Não é preciso conhecer as nuances do jornalismo para saber que aí estava uma boa história. Antes da viagem à PyeongChang, conversei com Dudley Stokes, piloto da icônica equipe de 1988 e atual treinador da Jamaica. Ele confidenciou que pensa, sim, em fazer uma sequência para o filme. Com essa informação em mãos, parti à Coreia com o intuito de conversar com as atletas, mas nem precisei de muito esforço: a imprensa mundial queria saber mais sobre as jamaicanas que conquistaram a vaga inédita no Bobsled feminino e o Comitê Olímpico da Jamaica precisou alugar uma sala de imprensa para realizar uma disputada coletiva. A reportagem estava praticamente pronta quando surgiu uma notícia bombástica. A treinadora brigou com os dirigentes e ameaçou levar o trenó embora! Assim, a esperada "sequência" de Jamaica Abaixo de Zero ganhou ares de drama na véspera dos Jogos Olímpicos.
A equipe feminina que colocou a Jamaica nos Jogos Olímpicos de PyeongChang (Reprodução) |
'Sequência' de Jamaica Abaixo de Zero dribla polêmica em PyeongChang
Trinta anos após participar pela primeira vez dos Jogos
Olímpicos de Inverno, a equipe jamaicana de bobsled encontrou a sequência
perfeita para o filme Jamaica Abaixo de Zero. O time feminino, formado por
Jazmine Fenlator-Victorian, Carrie Russell e Audra Segree, participou pela
primeira vez de uma edição olímpica nos Jogos de PyeongChang – ainda que uma
polêmica na véspera da competição quase pôs tudo a perder.
Diferentemente de seus compatriotas em 1988, que não
completaram a quarta – e última – descida e ficaram de fora da classificação,
as jamaicanas realizaram suas três provas programadas e terminaram a disputa na
19ª posição dentre as 20 duplas participantes dos Jogos Olímpicos de
PyeongChang – ficaram à frente apenas das nigerianas.
Desde o sucesso do filme, a equipe de Bobsled do país é
uma das mais requisitadas nos Jogos Olímpico de Inverno. Nesta edição, com a
participação inédita do time feminino, a Jamaica precisou até alugar uma sala
no Centro de Mídia em PyeongChang para atender a imprensa internacional –
tamanho o interesse em cima das atletas.
"O público sempre pediu uma sequência para o filme e
sempre há essa possibilidade. Só temos que trabalhar a história", comentou
Dudley Stokes, piloto da equipe de 1988 e atual treinador da Jamaica, ao Brasil Zero Grau.
As semelhanças entre as duas trajetórias são grandes. Além do pioneirismo, a equipe feminina também foi formada às pressas durante o ciclo olímpico para conseguir a classificação aos Jogos de 2018 e teve que recrutar competidores do atletismo para integrar o trenó – entre elas está Carrie Russell, campeã mundial de atletismo de 2013 no revezamento 4x100 metros.
As semelhanças entre as duas trajetórias são grandes. Além do pioneirismo, a equipe feminina também foi formada às pressas durante o ciclo olímpico para conseguir a classificação aos Jogos de 2018 e teve que recrutar competidores do atletismo para integrar o trenó – entre elas está Carrie Russell, campeã mundial de atletismo de 2013 no revezamento 4x100 metros.
Referência direta ao filme |
"Eu quero apenas crescer sob o legado que eles deixaram a
nós trinta anos atrás para que as pessoas possam falar de um modo geral da
nossa participação", afirmou Carrie Russell, recrutada em 2016.
Contudo, a classificação aos Jogos Olímpicos de
PyeongChang só foi possível graças ao desempenho da pilota, e principal estrela
da equipe, Jazmine Fenlator-Victoria, 32 anos. Filha de pai jamaicano e de mãe
com origem alemã-polonesa, a atleta nasceu no estado de Nova Jersey, nos
Estados Unidos. Ela começou no Bobsled em 2007 como integrante da equipe
norte-americana e, nos Jogos de Sochi, em 2014, comandou o trenó do país que
terminou na 11ª colocação.
Contudo, após a competição olímpica, Jazmine quis
realizar uma mudança em sua carreira e, após conversar com os familiares, resolveu
competir pelo país de origem do pai com o intuito de "voltar para casa" e
passar uma mensagem de diversidade.
"É importante para mim que garotos e garotas vejam alguém
que se pareçam com eles, fale como eles, tem a mesma cultura, cabelos
cacheados, pele escura e está incluído em diferentes coisas neste mundo. Quando
você cresce e não vê isso, você acha que não consegue fazer. E isso não está
certo", conclui.
Federação e ex-treinadora brigam e time quase fica sem trenó
Entretanto, a participação inédita da equipe feminina da
Jamaica no Bobsled sofreu um duro golpe na véspera dos Jogos Olímpicos. A
alemão Sandra Kiriasis, campeã olímpica em 2006 e treinadora do time desde
2017, entrou em rota de colisão com a Federação Jamaicana na primeira semana do
evento e acabou demitida do cargo.
Tudo começou quando a entidade resolveu rebaixar Kiriasis
do cargo de "treinadora de pilotagem" para "analista de pista". Dessa forma,
ela perderia a credencial da Vila Olímpica e não teria mais contato com as
atletas – mesmo após ter desfilado na Cerimônia de Abertura dos Jogos Olímpicos
de PyeongChang com o restante da delegação jamaicana.
Em comunicado divulgado nas redes sociais, a Federação
Jamaicana de Bobsled está "profundamente decepcionada com a decisão de Kiriasis
deixar a equipe" e agradece "por sua contribuição imensurável no sucesso da
equipe feminina". Contudo, em entrevista à Reuters,
Chris Stokes, também integrante da equipe de 1988 e presidente da Federação
Jamaicana de Bobsled, comentou que "a mulher tinha uma força destrutiva no
time".
Sandra Kiriasis rebate a tese de que ela abandonou o
projeto jamaicano. "O fato é que eu não deixei a equipe, mas fui forçada a não
continuar devido às condições inaceitáveis propostas pela federação sem
qualquer explicação e que me obrigariam a sacrificar minha reputação e meu
profissionalismo", escreveu a treinadora em seu Facebook.
A ex-atleta da Alemanha, porém, foi a responsável por
buscar patrocinadores e alugar o trenó (a um preço baixo) que a Jamaica usaria
em PyeongChang. Ela, inclusive, ameaçou levar embora o equipamento, que já
estava em solo sul-coreano. A situação só foi contornada quando a cervejaria
Red Stripe, a principal da Jamaica, se ofereceu para comprar um novo trenó às
jamaicanas.
O trenó jamaicano, enfim, competiu em PyeongChang (Reprodução) |
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