Thomas Bach, presidente do COI, e Samuel Schmid, autor do último relatório contra a Rússia (IOC/Christophe Moratal) |
Era uma situação ventilada em vários cantos e, de certa forma, até esperada diante das graves acusações dos Relatórios McLaren (da WADA) e Schmid (do COI). Mas nem por isso a notícia deixou de ser impactante. O Comitê Olímpico Internacional realmente excluiu a Rússia dos Jogos Olímpicos de Inverno de 2018 por conta do escândalo de doping.
A decisão foi divulgada nessa
terça-feira, 5 de dezembro, e imediatamente ganhou manchete nos principais
portais de notícias esportivas do país. Surto Olímpico, Globoesporte.com, Estadão e a coluna Laguna Olímpico, do Lance!, foram alguns dos veículos que repercutiram a exclusão do Comitê Olímpico Russo dos próximos Jogos Olímpicos de Inverno. Aqui você pode ver (em inglês) a decisão completa do COI.
Não tenho muito o que acrescentar em
cima do hard news – e casos de doping devem ser analisados criticamente
em toda sua complexidade (incluindo o lado financeiro e político). Contudo, é
necessário ponderar alguns dos efeitos que essas medidas terão nos Jogos Olímpicos
de Inverno de 2018 e no próprio futuro do Movimento Olímpico.
Está claro que o Comitê Olímpico
Internacional resolveu jogar duro após deixar nas mãos de cada federação
internacional a decisão de excluir a Rússia dos Jogos do Rio de Janeiro, em
2016 (o que permitiu algumas situações curiosas, como a participação russa nas
lutas, mas não no atletismo, por exemplo). O objetivo, portanto, é passar a
mensagem de que casos de doping não
serão tolerados, ainda mais se forem sistemáticos e com anuência governamental.
A questão é que situações extremas
exigem um conjunto de decisões a curto, médio e longo prazo ao invés de uma
única medida drástica. É preciso entender que a expansão do doping é consequência da própria
expansão dos Jogos Olímpicos a partir dos anos 1980, em que a vitória a
qualquer custo é estimulada para encobrir fracassos e derrotas (RUBIO, 2006). O
uso de substâncias ilícitas, portanto, é apenas um dos recursos que o atleta e
o país têm para buscar a vitória – item fundamental para atrair dinheiro e
seguidores na sociedade em que vivemos.
Assim, por mais dura que seja a
exclusão de um país como a Rússia dos Jogos Olímpicos, será preciso mais para
interromper esse círculo. Em outras palavras: tirar a Rússia dos Jogos de
Inverno não irá acabar com o doping
dos atletas russos e, tampouco, frear essa questão em escala global. Como lembra
Marcelo Laguna, a única diferença da Rússia para outras potências esportivas
foi o "simples" fato de ter sido desmascarada.
Se não vai "limpar" o esporte do doping, a exclusão da Rússia em 2018
certamente irá "contaminar" ainda mais os Jogos de PyeongChang. Não bastasse a
insegurança crescente devido às ameaças mútuas entre Estados Unidos e Coreia do
Norte e a necessidade de mudança na gestão e governança dos Jogos, o COI vai
encarar, agora, a reação russa – o que pode deixar grande parte das estrelas
dos esportes de inverno de fora da disputa em PyeongChang.
Por mais que o governo russo tenhaafirmado anteriormente que não iria boicotar os Jogos de Inverno de 2018, a
decisão de participar, ou não, cabe unicamente ao atleta a partir de agora. O
Comitê Olímpico Internacional permitiu a participação de atletas russos "limpos" nos Jogos de Inverno de 2018, desde que usem a sigla OAR (atletas olímpicos da
Rússia, em inglês) e utilizem a bandeira olímpica. Uma medida que, por motivos
óbvios, não agradou os competidores russos.
Evgenia Medvedeva, bicampeã mundial de
patinação artística e favoritíssima ao ouro em 2018, já anunciou que "não pode competir" como atleta neutra. Já a liga de hóquei KHL, que seria a principal "fornecedora" de jogadores em 2018,
também já ameaçou não liberar os atletas se o "Time Rússia" for banido. Biatlo,
patinação de velocidade, esqui cross-country e bobsled são outros exemplos de
modalidades que sentiriam uma queda técnica sem a Rússia. Apenas nesta
quarta-feira, 6 de dezembro, 22 atletas russos entraram com recurso no CAS(Corte Arbitral do Esporte) para reverter a decisão do COI.
A decisão pode se arrastar por semanas, comprometendo a preparação de vários atletas. Como disse em entrevista ao portal Sputnik Brasil, o impacto esportivo é total. Não se exclui uma Rússia dos Jogos Olímpicos de Inverno sem influenciar o evento. A comparação do jornalista Jamil Chade em seu Twitter foi certeira: "suspender a Rússia dos Jogos de Inverno equivale a tirar um Brasil ou uma Argentina de Copa do Mundo. Sem precedentes".
A decisão pode se arrastar por semanas, comprometendo a preparação de vários atletas. Como disse em entrevista ao portal Sputnik Brasil, o impacto esportivo é total. Não se exclui uma Rússia dos Jogos Olímpicos de Inverno sem influenciar o evento. A comparação do jornalista Jamil Chade em seu Twitter foi certeira: "suspender a Rússia dos Jogos de Inverno equivale a tirar um Brasil ou uma Argentina de Copa do Mundo. Sem precedentes".
É inegável que, diante de tantas acusações graves relacionadas ao doping no esporte russo e também com escândalos nas últimas candidaturas, o Comitê Olímpico Internacional precisava tomar uma decisão para não comprometer ainda mais a imagem dos Jogos Olímpicos. Não se questiona aqui a legalidade e a validade da punição - corajosa diante da magnitude dos atores envolvidos. O que se espera, a partir de agora, é que a exclusão da Rússia seja apenas o primeiro passo em uma nova fase do Movimento Olímpico, combatendo o doping em TODOS os países e garantindo que a paz, o esporte e a congregação dos povos continuem como seus valores fundamentais neste século 21.
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