Tal pai, tal filha: duas gerações brasileiras no skeleton

Equipe júnior do Brasil nos esportes de gelo (Divulgação/CBDG)

Neste fim de semana a equipe júnior da CBDG começa a sua primeira caminhada na história do esporte nacional. O time de skeleton, composto pelos atletas Robert Barbosa, Laura Nascimento e Savannah Fracasso, participa da primeira classificatória dos Jogos Olímpicos da Juventude de Inverno de 2016, na Noruega. 

Ao todo, serão duas corridas em Lake Placid, tradicional pista norte-americana. A primeira delas é neste sábado, a partir das 18h no horário local (20h no horário brasileiro de verão). Depois, no domingo, temos a segunda descida no mesmo horário. Por serem estreantes, os brasileiros precisam garantir o maior número de pontos não só agora, nos Estados Unidos, como também nas próximas duas etapas, entre novembro e dezembro. 

A caminhada será repleta de emoções e desafios para estes três atletas, mas uma delas carregará um significado especial nesta busca pela vaga olímpica. Savannah Fracasso é filha de Leandro Fracasso, um dos primeiros atletas de gelo que o Brasil teve. Da mesma forma que seu pai teve que desbravar caminhos 15 anos atrás, agora é ela que vai desempenhar essa função. 

Tá no sangue

Savannah (à esquerda) com Laura e Robert, do time de skeleton (Arquivo Pessoal)

"Confesso que não sei como surgiu esse convite. Um dia o meu pai chegou com as boas notícias e simplesmente aconteceu", resume a jovem Savannah ao Brasil Zero Grau. Esta boa notícia consistia no convite feito pela CBDG à jovem para se aventurar no skeleton e tentar uma vaga nos Jogos Olímpicos da Juventude de Inverno. 

Até então, esta modalidade era apenas um dos assuntos nas conversas familiares da jovem nascida nos Estados Unidos. Quando o assunto é esporte de inverno, suas maiores experiências foram algumas descidas de snowboard. Mas como diz o ditado, filha de peixe, peixinho é. "Minha família sempre gostou de esporte e meu pai deu todo o suporte para encarar este desafio". 

Ela passou os últimos dias treinando em Lake Placid para conseguir encarar as provas no skeleton. Por mais que o objetivo final seja a vaga olímpica, Savannah deseja mesmo "ficar mais rápida, crescer e evoluir dentro dessa modalidade. Quem sabe até brigar por vaga olímpica adulta", comentou. Assim, ela consegue realizar não só o seu sonho, mas também o do próprio pai. 

Sonhos e frustrações

Leandro e Ricardo, nos anos 90 (arquivo pessoal)

Disputar uma edição das Olimpíadas de Inverno era um dos combustíveis que motivava Leandro Fracasso lá pelos idos de 1997. Ele era um dos integrantes da equipe brasileira de bobsled, montada por Eric Maleson nos anos 90 para tentar a vaga olímpica pela primeira vez no esporte. 

Eram outros tempos, evidentemente. O time nacional não tinha recursos e os atletas precisavam bancar do próprio bolso os treinos e a preparação. Ao lado dos dois, estava Ricardo Raschini, que posteriormente faria história pelo Brasil ao participar de duas edições olímpicas de inverno. 

Em 1998, Leandro foi até Calgary, no Canadá, para participar de aulas no luge. Entretanto, ao ver o skeleton descendo, foi amor à primeira vista. "Naquele momento eu me converti ao skeleton totalmente", admite. No início do ano seguinte participou de treinos e aulas em Park City. Se encantou com a cidade e, seis meses depois, pegou suas coisas, saiu de Boston e foi direto para Utah a fim de ficar perto daquela atmosfera.

Tudo parecia caminhando bem para Leandro, mas em 2000 tudo mudou. Algumas desavenças com a diretoria da CBDG, aliadas ao novo momento de sua vida pessoal e profissional (nascimento da Savannah e um novo trabalho em tempo integral) o fez, literalmente, guardar seu trenó de skeleton na garagem.

"Isso me deixou muito triste. Eu sabia que tinha chances de classificar para os Jogos de 2002. Eu até poderia tentar entrar no time norte-americano, mas era o momento de pensar na minha vida e na minha família, com minha profissão e minha música", confessou Leandro, integrante do HOOGA, uma banda de metal. 

E assim foi nos quinze anos seguintes. Leandro casou, se divorciou e passou a realizar diversas atividades físicas com as filhas (JayLynn é a mais nova), como motocross, mountain bike, wakeboard, snowboard e até mesmo treinamento para maratonas. "Não temos videogame em casa. Preferimos estar do lado de fora". 

Até que no dia 19 de agosto deste ano o brasileiro foi surpreendido por uma mensagem de Ricardo Raschini, velho colega da equipe nacional de bobsled. Ele o colocou em contato com Emílio Strapasson, presidente da CBDG, para que a Savannah pudesse competir pelo Brasil no skeleton feminino. Era o antigo sonho voltando com força na família Fracasso. 

"Eu perdi minha chance de ir para os Jogos Olímpicos, mas estou extremamente feliz em ver minha filha ter essa incrível oportunidade - o que já vale mais do que uma medalha de ouro. Pelo menos posso dizer que todos estes desafios que eu tive me deixaram mais forte. Estou com 45 anos e na minha melhor fase da vida", conclui Leandro. 

Streaming

Quem quiser acompanhar a estreia de Savannah, Laura e Robert no skeleton pode acompanhar neste link. A Federação Norte-americana vai transmitir as descidas ao vivo. 

Leandro e Savannah: de pai para filha (Arquivo Pessoal)

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