No Four Continents (Arquivo Pessoal) |
Ela é a terceira personagem da série "Pioneirismo", uma homenagem do Brasil Zero Grau ao Dia Internacional da Mulher e um reforço à campanha contra o fechamento do maior rink de patinação do país, no Rio de Janeiro (o link está do lado direito).
As coincidências entre Stephanie e Isadora param por aí. Enquanto a segunda, mesmo com pouca ajuda financeira, resolveu encarar a dura rotina de treinos e competições, a primeira sucumbiu diante da decisão que sempre afeta jovens atletas brasileiros: seguir no esporte ou entrar para a universidade e ter uma carreira estável.
Stephanie optou pela segunda escolha e decidiu pôr fim a um sonho breve, mas intenso. Nascida no dia 11 de novembro de 1989, ela começou a patinar com nove anos em Costa Mesa, na Califórnia. A inspiração veio com os Jogos Olímpicos de Nagano, em 1998, quando viu Tara Lipinski conquistar o ouro na disputa feminina.
Começou a treinar com esse intuito. Até 2004 treinava e competia pela Associação de Patinação Artística dos EUA. Depois, passou para o time de patinação sincronizada ICE'Kateers. Esta é uma modalidade muito forte no país norte-americano, que consiste de 16 a 20 garotas patinando ao mesmo tempo no rink. Chegou a ficar na quarta colocação do Campeonato Nacional com a equipe em 2005. Mas no ano seguinte o sonho olímpico voltou a ganhar força.
"Em 2006 minha mãe ouviu de um amigo que a Associação Brasileira de Patinação no Gelo iria realizar o Campeonato Brasileiro. Iria acontecer num pequeno rink do Shopping Butantã. Eu decidi que iria participar do evento e comecei um programa com meus treinadores na Califórnia feito especificamente para um rink oito vezes menor do que estávamos acostumados", escreveu Stephanie ao Brasil Zero Grau.
O torneio aconteceu em julho de 2006. Ela era a única mulher que possuía uma rotina de treinos e acabou vencendo a competição. Diego Dores, hoje brilhante comentarista da modalidade, foi o vencedor entre os homens.
Com Iran Malfitano no Dança no Gelo (Arquivo Pessoal) |
Convenceu os pais, trancou o colégio nos EUA e veio para o Rio de Janeiro participar da segunda temporada do quadro. Seu par foi o ator Iran Malfitano e eles foram os grandes vencedores. "Participar do Dança no Gelo foi uma experiência boa para mim. Mostrou-me que eu conseguiria atingir meus objetivos se trabalhasse duro para isso".
E da mesma forma que Simone Pastusiak (vencedora da primeira temporada), ela chamou a atenção de Eric Maleson, então presidente da CBDG e que era um dos jurados. Ele perguntou à Stephanie se ela gostaria de representar o Brasil no Four Continents de 2007, que aconteceria dali três meses. "É claro que eu pulei com a oportunidade de representar o país em um nível internacional! Era uma honra ser a primeira representante do Brasil num torneio oficial da ISU (União Internacional de Patinação)".
No dia 7 de fevereiro de 2007, lá estava Stephanie Gardner de volta aos EUA, mas agora como atleta brasileira no Four Continents, que aconteceu no Colorado. Como era a primeira atleta do país no âmbito internacional, homenageou a pátria da cabeça aos pés. Escolheu a música "Garota de Ipanema" para seu programa curto e usou um vestido com as cores azul, amarelo e verde, simbolizando a bandeira brasileira.
Tanto amor, porém, não a classificou para o programa longo (que teria a música Carioca - Copacabana). Ficou na 26ª e última posição, com 18.69 pontos na sua apresentação. "Eu fiz um bom programa curto, mas não consegui avançar", contenta-se Stephanie. As 24 melhores ganhavam o direito de se apresentar no programa longo.
Apresentação (Arquivo Pessoal) |
Havia a questão da logística (onde seriam os treinos), a questão financeira e até mesmo de agenda. "Queria fazer uma parceria com Flávio Francisco ou Diego Dores e montar uma equipe de Dança no Gelo que poderia treinar para os Jogos Olímpicos, mas percebendo a logística deles para ir até a Califórnia e treinar era complicado. Eu também cheguei naquele momento que deveria escolher entre os treinos e a universidade".
E aí ela escolheu a universidade. Se formou em Literatura Comparada na Universidade da Califórnia e já está se formando em Arquitetura e Paisagismo na Universidade Estadual de Louisiana. Seu objetivo agora é construir um mundo mais sustentável. Quer se transformar em urbanista para planejar cidades que apoiam sistemas ecológicos.
Patinação artística, agora, apenas como torcedora. "A modalidade influenciou bastante minha vida e me ajudou a ser o que sou hoje. Tenho muito orgulho de ser brasileira e de ter contribuído com esse legado da patinação artística, levado hoje pela Isadora. O Brasil tem um potencial muito grande. Seria bom se pudesse ter uma infraestrutura para que os brasileiros pudessem treinar numa pista com medidas padrões".
Acompanhou Isadora Williams nos Jogos Olímpicos e torce para que seja apenas o início de uma longa jornada de sucesso. "O Brasil classificar uma atleta para as Olimpíadas já foi uma grande vitória. Desejo muita sorte e sucesso para a Isadora e que seja o começo da tradição brasileira na patinação no gelo", concluiu.
Amor pelo Brasil
Com a bandeira brasileira: português fluente (Arquivo Pessoal) |
Aprendeu a falar o português aos 13 anos, assistindo as novelas da Rede Globo. Depois, já na faculdade, estudou Literatura Comparada e usou a literatura brasileira como seu principal foco de estudo durante o período de graduação.
Pedido
Stephanie quis dedicar essa entrevista a uma pessoa especial e atendo o pedido da nossa patinadora."Eu gostaria de dedicar essa entrevista para Jefferson Menezes, que era o presidente da Associação Brasileira de Patinação no Gelo em 2006. Jefferson era um grande defensor da patinação artística no Brasil. Ele amava o esporte e deu muitos passos necessários para o Brasil conseguir a classificação olímpica. Ele era um homem extremamente generoso, que me ensinou muito durante a Dança no Gelo e foi a razão pela qual eu fui capaz de representar o Brasil internacional. Ele morreu algum tempo atrás e faz muita falta. Ele ficaria muito feliz em saber que o Brasil participou dos Jogos Olímpicos de Sochi".
excelente post! uma pena a massa nem saber da existência de outros brasileiros pioneiros no gelo
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