Equipe inteira da delegação brasileira (Reprodução/Facebook) |
Ufa, depois de recarregar as baterias na segunda-feira, o Brasil Zero Grau começa a entrar na sua vida normal. Durante 18 dias, 13 brasileiros participaram de sete modalidades e se aventuraram entre as grandes potências do esporte e emocionaram a todos com sua garra e vibração.
Muita gente criticou a participação dos brasileiros justamente por ficarem longe dos melhores resultados. Como se resultado fosse o único objetivo dos Jogos! Repito, onde foram parar os verdadeiros valores olímpicos? Teve gente que até associou a participação brasileira como um projeto de megalomania patrocinado pelo COB só para poder criticar a cartolagem! O problema é que assim ignoram o fato de que o Brasil participa há 22 anos ininterruptos dos Jogos de Inverno! E ignoram também os sonhos e batalhas de todos os atletas de inverno que enfrentam duras rotinas para conseguir participar do evento.
Enfim, desculpem pelo desabafo no post. O importante aqui é fazer um pequeno balanço da participação dos brasileiros. Mas ao contrário dessa turma que analisa apenas os números e vomita regras e conclusões precipitadas, aqui levaremos em conta o retrospecto pelo qual esses 13 atletas passaram no último ciclo olímpico.
Desportos no gelo
Isadora WilliamsEntrou como uma das atletas mais conhecidas do Brasil por conta do carisma, do sorriso fácil e, claro, pelo enorme talento. Primeira brasileira a conquistar a vaga na patinação artística, Isadora entrou em Sochi com um retrospecto para lá de confiante: medalha de bronze no Golden Spin, melhor participação do país no Mundial Senior e a vaga olímpica no Nebelhorn. Porém, ela não conseguiu controlar o nervosismo e a 30ª e última posição não reflete o talento dela. Mas nem isso apaga seu feito histórico. Tratou de assimilar o aprendizado, conquistou ainda mais a torcida brasileira e promete voltar mais forte em 2018.
Equipe feminina de bobsled
A vaga olímpica já foi a maior das vitórias que Fabiana dos Santos, Larissa Antunes e Sally Mayara poderiam esperar. Com um ano de preparação elas já conseguiram uma classificação inédita e que a piloto Fabiana esperava havia dez anos. Elas ficaram três meses no Canadá para tentarem diminuir a diferença técnica com as outras rivais. O objetivo era escapar da última posição, mas depois de sofrerem um acidente nos treinos e conviverem com as críticas, a última posição foi o que menos importou para as meninas. Era necessário fazer uma pilotagem segura e mostrar aos críticos que com um pouco de dedicação e estrutura o Brasil pode chegar lá. Conseguiram.
Equipe masculina de bobsled
Um pequeno erro na terceira descida impediu que a participação da equipe masculina de bobsled fosse perfeita. A dificuldade na hora de entrar no trenó custou algumas posições e a 29ª colocação (a penúltima) na modalidade não era aquilo que eles esperavam. Mas esse também é o único ponto de lamentação para o piloto Edson Bindilatti e os companheiros Edson Martins, Odirlei Pessoni, Fábio Gonçalves e Daividson de Souza. Também com apenas um ano de preparação e correndo contra o tempo, os homens conseguiram a classificação olímpica e retornaram aos Jogos após oito anos. Eles sacrificaram tempo, dinheiro e trabalho para conseguirem estar presente nas Olimpíadas. Conviveram com algumas críticas até mesmo desnecessárias (não me conformo até agora a polêmica da pintura do trenó), mas também mostraram que com esforço e dedicação é possível melhorar - tanto que o tempo de largada do país é um dos melhores do mundo.
Desportos na neve
Jhonatan LonghiAtleta habilidoso, Jhonatan queria melhorar sua participação em relação aos Jogos de Vancouver, quando estreou no esqui alpino. Conseguiu atingir o objetivo em parte: no slalom gigante conseguiu ser o segundo melhor atleta da América do Sul, o que já é um feito e tanto. Mas na prova de slalom acabou desclassificado por errar a passagem num dos gates. Chiou um pouco, cogitou a aposentadoria e, agora, está disposto a mudar apenas de esporte. Ele sabe que poderia render mais nessa última prova apesar das situações adversas. Espero que ele continue competindo pelo Brasil: ainda tem muito o que acrescentar aos esportes de inverno do país.
Maya Harrisson
A grande destaque da participação brasileira, na minha opinião. Chegou em Sochi cercada de muita desconfiança. Afinal de contas, ficou de 2011 a 2013 sem competir, se recuperando de uma sequência de lesões. Voltou justamente na temporada olímpica e passou por uma seletiva complicada contra Chiara Marano. Mas todas as dúvidas se dissiparam quando ela participou das provas de esqui alpino. No slalom gigante, conseguiu quebrar o recorde nacional e estabeleceu uma nova marca. No slalom foi a primeira atleta de esqui alpino a colocar o país no Top 40 da modalidade. Um feito e tanto que deve motivar ainda mais a Maya Harrisson no próximo ciclo olímpico.
Leandro Ribela
Leandro Ribela é aquele atleta muito consciente do que faz. Ele sabia que não conseguiria brigar por muitas posições e traçou como meta poder esquiar bem e melhorar sua participação em relação à Vancouver. Participou da prova de sprint no Cross-Country, o primeiro brasileiro a conseguir o feito, e fez o que se esperava dele. Fugiu das últimas posições (chegou na frente de outros cinco competidores) e manteve sua média de pontuação FIS em grandes eventos. Ainda por cima, conseguiu dar mais visibilidade ao fantástico projeto Ski na Rua, que usa o roller ski como ferramenta de cidadania com jovens da comunidade São Remo, em São Paulo. Quem disse que esportes de inverno também não pode cumprir com uma função social?
Jaqueline Mourão
O objetivo já havia sido conquistado antes mesmo dos Jogos Olímpicos - tanto que ela foi premiada como a porta-bandeira do Brasil na Cerimônia de Abertura. Aos 38 anos, na sua quinta Olimpíada (a terceira de inverno), Jaqueline Mourão conseguiu classificar o Brasil pela primeira vez no Biatlo em Jogos Olímpicos. Ela ainda disputou a prova de sprint do Cross-Country e em termos de resultado também ficou na média, conseguindo fugir das últimas posições. Apenas na disputa dos 15 quilômetros no biatlo ela errou um pouco mais no tiro e ficou bem acima das próprias expectativas. Mas não importa: em Sochi ela foi a primeira mulher do mundo a participar de Olimpíadas de Verão e de Inverno em três modalidades diferentes. É para poucos, realmente.
Isabel Clark
Dona dos melhores resultados do Brasil em Jogos de Inverno, Isabel Clark conseguiu se recuperar de Vancouver e mostrou uma prova segura no snowboardcross em Sochi. Na descida de classificação conseguiu a 12ª marca, indo direto para as quartas de final. Nesta etapa, fazia uma ótima bateria e tinha tudo para pegar a vaga para a semifinal e ficar entre as 12 melhores, mas um acidente envolvendo outras atletas e que impediram a sua passagem prejudicou sua prova e a chance de classificação. A 14ª posição, porém, mostra como Isabel continua entre as melhores do mundo mesmo aos 37 anos e oriunda de um país sem incidência de neve.
Josi Santos
O acidente de Lais Souza na véspera da classificação olímpica pôs em xeque todo o trabalho desenvolvido pela CBDN no esqui aerials. Choveram críticas em relação à estrutura, ao dinheiro envolvido e até mesmo as condições das atletas. Por tudo isso, Josi embarcou para Sochi com outros planos e que não envolviam qualquer tipo de resultado. Ela sabia que seria a última colocada pela facilidade do salto em relação às adversárias, mas queria marcar território: competiu para homenagear a amiga Lais, para mostrar que o trabalho iniciado apenas oito meses atrás não foi em vão e que o Brasil, dentro de dez anos, pode sim sonhar com medalhas no esqui aerials. Espero que a Josi continue envolvida no esporte e que todo o projeto iniciado em 2013 continue. Muitos criticam a utilização de atletas de verão em esportes de inverno, mas uma simples pesquisa mostra que a campeã olímpica de 2010 nessa mesma prova foi ginástica profissional da Austrália, outro país sem incidência de neve. Que o trabalho siga em frente.
Esse foi o balanço individual de cada um dos representantes brasileiros em Sochi. Tivemos momentos de alegria, emoção e tristeza, claro. O importante é que neste ano as duas confederações já iniciarão os planos para Pyeongchang, em 2018. Com um bom planejamento e a nova geração que surge por aí, poderemos ter algumas surpresas no próximo ciclo olímpico. Mas isso é assunto para um outro post!
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