Para encerrar o Guia Especial do Troféu Nebelhorn, vamos contar um pouco sobre as ambições e anseios dos dois patinadores brasileiros. Isadora Williams e Luiz Manella são jovens e já carregam nos ombros a responsabilidade de conquistarem feitos inéditos para o esporte brasileiro.
Isadora, por exemplo, ficou na 25ª posição do Mundial Senior no primeiro semestre, a uma posição da vaga olímpica. Ela também conquistou a primeira medalha internacional do país em competições internacionais (o bronze no Golden Spin de Zagreb). Já Luiz detém a melhor marca do Brasil em Mundial Junior, com a 15ª posição nesta temporada e vive grande fase com ótimos resultados.
Marcas que os credenciam para disputar a vaga olímpica nesta temporada. É a primeira vez que o Brasil possui chances reais de garantir a classificação nesta modalidade. O que seria um feito e tanto para a falta de estrutura e crise administrativa pela qual passou a CBDG nos últimos anos.
Um pouco de história...
Mas antes de falar dos dois protagonistas desta temporada, vamos voltar no tempo em 2009 para falar da estreia brasileira nesta competição. Naquele ano o Nebelhorn também classificou atletas para os Jogos Olímpicos de Vancouver e dois brasileiros, pioneiros da modalidade, tentaram o verdadeiro milagre.
Kevin Alves no masculino e Alessia Baldo no feminino não tiveram grandes chances, porém. Sem experiência, sem estrutura e apenas com a enorme força de vontade, eles participaram do torneio, mas ficaram longe da vaga olímpica.
Kevin ainda ficou no meio da classificação, terminando na 23ª posição com 138.16 pontos (a classificação olímpica chegou até ao 14º). Já Alessia ficou na 33ª e última posição entre as mulheres, com 64.85 pontos (a vaga rodou até a 12ª colocada).
Após não ter representantes em 2010, o Brasil voltou a participar do Nebelhorn em 2011, novamente com Kevin Alves, mas ele abandonou a disputa.
Até que no ano passado Luiz e Isadora participaram da competição em busca de experiência. Isadora foi muito bem: ela terminou na 11ª posição com 124.91 pontos (havia 22 atletas inscritas). Já Luiz Manella ficou na 23ª e penúltima posição, com 131.96 pontos.
Marcas que não garantiriam a vaga olímpica neste ano. Mas não se engane: você verá abaixo que os dois estão em franca evolução e prometem lutar muito para fazer história. Os dois deram entrevistas exclusivas ao Blog Brasil Zero Grau na véspera do Troféu Nebelhorn. Confira!
Era domingo e o Blog queria conversar com Isadora Williams por skype, para saber um pouco mais da ansiedade e expectativa para o Nebelhorn. A entrevista, porém, precisou ser em troca de e-mails por um simples motivo: no domingo à tarde, data agendada para a conversa, Isadora e seu técnico Andrey Kryukov viajaram para treinar num ringue que teria a mesma dimensão do local que acontecerá o Nebelhorn.
A passagem acima é só um exemplo da determinação da brasileira de 17 anos. Desde o ano passado o foco da atleta está em conquistar esta vaga olímpica inédita para o Brasil na patinação artística no gelo.
A determinação é tanta que ela mesma respondeu as perguntas em português, com o auxílio de sua professora. Trocou de figurino e coreografia no seu programa curto, tudo para aumentar preciosos pontos na sua nota final. Alterna a escola com uma agenda extenuante de treinos em academia, ringue de patinação e até ballet. Ainda não se convenceu? Então olhe a resposta dela quando perguntei se ela se considerava pronta para disputar a vaga olímpica: "eu estou mais do que pronta!".
Tal determinação não esconde, porém, um peso que ela parece carregar nas costas. Os bons resultados na última temporada e o fato de ter chegado tão perto da vaga olímpica no Mundial fez crescer o interesse nela. Todos queriam fazer matérias com a pequena notável, a princesa do gelo! Ela veio no Brasil em agosto e pôde sentir um pouco mais do apego que nós, brasileiros, temos pelos nossos ídolos.
Marcas que não garantiriam a vaga olímpica neste ano. Mas não se engane: você verá abaixo que os dois estão em franca evolução e prometem lutar muito para fazer história. Os dois deram entrevistas exclusivas ao Blog Brasil Zero Grau na véspera do Troféu Nebelhorn. Confira!
A determinação de Isadora Williams
Arquivo Pessoal |
A passagem acima é só um exemplo da determinação da brasileira de 17 anos. Desde o ano passado o foco da atleta está em conquistar esta vaga olímpica inédita para o Brasil na patinação artística no gelo.
A determinação é tanta que ela mesma respondeu as perguntas em português, com o auxílio de sua professora. Trocou de figurino e coreografia no seu programa curto, tudo para aumentar preciosos pontos na sua nota final. Alterna a escola com uma agenda extenuante de treinos em academia, ringue de patinação e até ballet. Ainda não se convenceu? Então olhe a resposta dela quando perguntei se ela se considerava pronta para disputar a vaga olímpica: "eu estou mais do que pronta!".
Tal determinação não esconde, porém, um peso que ela parece carregar nas costas. Os bons resultados na última temporada e o fato de ter chegado tão perto da vaga olímpica no Mundial fez crescer o interesse nela. Todos queriam fazer matérias com a pequena notável, a princesa do gelo! Ela veio no Brasil em agosto e pôde sentir um pouco mais do apego que nós, brasileiros, temos pelos nossos ídolos.
"Sim, claro que sente a pressão]! Afinal estou representando um grande país. A torcida é a minha grande inspiração. Eu não quero decepciona-los", comentou Isadora.
Mas é um peso que ela não merece carregar. Afinal de contas este país pouco fez no passado para que ela desenvolvesse todo o seu talento. Todos sabemos que a CBDG passou por uma grave crise nos últimos anos, justamente na temporada pré-olímpica. Resumindo: quando mais precisou, Isadora precisou batalhar sozinha, apenas com a família do lado.
"Foi um período de incertezas, um tempo muito difícil. Eu fiquei fora de muitas competições no período de 2010-2012. Eu precisava competir mais para ter visibilidade e credibilidade perante aos juízes. Este era o período pré-olímpiada. Os meus pais me apoiaram muito financeiramente, o meu técnico Andrey Kryukov me deu aulas sem cobrar, tive muito apoio dos meus outros técnicos como o Max Katchanov, Natasha Timochenko (coreógrafa) e a Emily Morris, além de personal trainer, foi uma grande amiga".
Mas se é na adversidade que os atletas amadurecem, Isadora Williams não perdeu a chance. Cresceu e cresceu muito. Da menina que ficou na metade da classificação no Nebelhorn no ano passado, hoje ela é uma atleta respeitada e motivada.
Se competiu pouco do que outras rivais, não podemos negar que não faltou determinação. Foi assim no Golden Spin, quando ela entrou na quarta posição no programa longo e conquistou a inédita medalha para o país. Foi assim que ela se recuperou a tempo de disputar o Mundial, após uma lesão afastá-la do Quatro Continentes. E é assim agora no Nebelhorn.
"Eu amadureci muito em um ano como patinadora e como pessoa. Eu tenho mais controle do que quero fazer tanto na escolha das músicas, na confecção dos meus vestidos. Estou muito melhor preparada este ano do que no ano passado", afirmou.
É com essa determinação que a partir das 6h (horário de Brasília) que Isadora entrará no ringue em Oberstdorf para conquistar mais do que uma simples vaga olímpica. Ela quer escrever mais um capítulo da história dos esportes de inverno do Brasil.
*A brasileira será a última a se apresentar no programa curto amanhã, a partir das 5h50 (horário de Brasília). O Blog ficará de olho na apresentação dela. Abaixo confira vídeo de Isadora no Mundial deste ano, onde por muito pouco ela não conquistou a vaga olímpica:
"Eu garanto que poderia estar numa situação bem melhor se não tivesse machucado o pé. Só que mesmo machucando o pé vou lá na frente e me sinto confiante de que vou fazer o melhor que posso e tomara que fico entre os seis".
A frase acima foi o encerramento de uma rápida entrevista que Luiz Manella deu ao Blog Brasil Zero Grau via skype. O brasileiro, 18 anos, sabe de seu talento e reconhece que a lesão no pé tira um pouco de chances na disputa do Troféu Nebelhorn.
Mas não pense que ele se sente pressionado ou incomodado com isso. Afinal de contas, a temporada feita por Luiz no último ano o coloca em condições de igualdade com muitos competidores presentes.
Dono do melhor resultado brasileiro em Mundial Júnior (15º lugar conquistado neste ano), Luiz vinha numa crescente até torcer o pé novamente. Conquistou provas menores nos EUA, venceu com folgas a classificatória brasileira no Liberty e tinha tudo para terminar entre os oito primeiros na etapa de abertura do Junior Grand Prix em Riga, na Letônia.
"Não me sinto pressionado. A minha única preocupação foi "remachucar" o pé. Só que além disso eu acho que consigo ir e fazer o que eu posso", confirmou o jovem em bom português. Luiz nasceu em Londrina (PR) e morou até o início da adolescência no Brasil, antes de se mudar para os EUA.
E foi depois de efetuar o quádruplo toe pela primeira vez numa competição que Luiz voltou a sentir dores no pé (dores, aliás, que o incomodavam desde o Liberty). No salto seguinte ele torceu o tornozelo e precisou abandonar a disputa do programa longo.
A lesão não foi tão grave, mas exigiu cuidados para que ele se recuperasse o quanto antes e pudesse treinar antes do Nebelhorn. Confessou ter ido a vários médicos para achar o melhor medicamento e melhor fisioterapia. Não está 100% ainda, mas na raça ele vai competir mesmo assim.
"Mesmo com o pé machucado a expectativa é fazer o melhor que eu posso e terminar entre os seis primeiros mesmo se eu cair. Não vou conseguir fazer o pulo larsson, que é muito importante para ficar entre os primeiros, mas nós vamos arriscar e tentar fazer o quadruplo toe, que mesmo dando muito risco, garante muito ponto se realizar certo", admitiu.
Esta não é a primeira dificuldade enfrentada por Luiz na sua pequena carreira. Primeiro ele teve que driblar a crise administrativa da CBDG - só agora a entidade está apta para captar recursos e ajudar seus atletas. "Meus pais são o outro lado da conversa. Sempre tem a CBDG ajudando de um lado e tem meus pais do outro. E quando a CBDG teve problemas ficamos do nosso lado e meus pais me ajudaram muito", afirmou.
Depois, no início da temporada passada, ele trocou de treinador e de local de treinamento. Tudo para ficar mais perto da família. "Neste ano eu mudei de treinador, de treinamento e estar com a família facilita na competição. Sinto-me avaliado, o treino está melhor, avancei nos pulos e estou bem mais confiante do que no ano passado".
Dessa forma ele está apto não só para superar a lesão no pé, como também de vencer um duelo amistoso. Luiz é amigo do australiano Brendan Kerry e do filipino Michael Christian Martinez. Este último, inclusive, é uma das maiores ameaças do brasileiro (conforme você viu na segunda parte do Guia).
"Quem vai, vai. Sendo amigo a gente só espera que todo mundo faz o seu melhor. Mas por dentro a expectativa é que a gente vai e ganha. É um pouco difícil ver amigo que está um pouco abaixo do seu nível fazer melhor e ficar na sua frente. Mas isso é porque talvez treinaram melhor ou você esteve num dia ruim. No fim não pode ficar magoado ou triste com isso".
Amigos, amigos, negócios à parte. Até porque não é todo dia que um atleta pode fazer história no esporte do seu país, não é mesmo?
Confira abaixo o áudio da entrevista de Luiz Manella ao Blog Brasil Zero Grau:
Confira agora o vídeo do programa longo do brasileiro, que deu direito a ele de representar o Brasil no Troféu Nebelhorn:
Mas é um peso que ela não merece carregar. Afinal de contas este país pouco fez no passado para que ela desenvolvesse todo o seu talento. Todos sabemos que a CBDG passou por uma grave crise nos últimos anos, justamente na temporada pré-olímpica. Resumindo: quando mais precisou, Isadora precisou batalhar sozinha, apenas com a família do lado.
"Foi um período de incertezas, um tempo muito difícil. Eu fiquei fora de muitas competições no período de 2010-2012. Eu precisava competir mais para ter visibilidade e credibilidade perante aos juízes. Este era o período pré-olímpiada. Os meus pais me apoiaram muito financeiramente, o meu técnico Andrey Kryukov me deu aulas sem cobrar, tive muito apoio dos meus outros técnicos como o Max Katchanov, Natasha Timochenko (coreógrafa) e a Emily Morris, além de personal trainer, foi uma grande amiga".
Mas se é na adversidade que os atletas amadurecem, Isadora Williams não perdeu a chance. Cresceu e cresceu muito. Da menina que ficou na metade da classificação no Nebelhorn no ano passado, hoje ela é uma atleta respeitada e motivada.
Se competiu pouco do que outras rivais, não podemos negar que não faltou determinação. Foi assim no Golden Spin, quando ela entrou na quarta posição no programa longo e conquistou a inédita medalha para o país. Foi assim que ela se recuperou a tempo de disputar o Mundial, após uma lesão afastá-la do Quatro Continentes. E é assim agora no Nebelhorn.
"Eu amadureci muito em um ano como patinadora e como pessoa. Eu tenho mais controle do que quero fazer tanto na escolha das músicas, na confecção dos meus vestidos. Estou muito melhor preparada este ano do que no ano passado", afirmou.
É com essa determinação que a partir das 6h (horário de Brasília) que Isadora entrará no ringue em Oberstdorf para conquistar mais do que uma simples vaga olímpica. Ela quer escrever mais um capítulo da história dos esportes de inverno do Brasil.
*A brasileira será a última a se apresentar no programa curto amanhã, a partir das 5h50 (horário de Brasília). O Blog ficará de olho na apresentação dela. Abaixo confira vídeo de Isadora no Mundial deste ano, onde por muito pouco ela não conquistou a vaga olímpica:
A superação de Luiz Manella
Arquivo Pessoal |
A frase acima foi o encerramento de uma rápida entrevista que Luiz Manella deu ao Blog Brasil Zero Grau via skype. O brasileiro, 18 anos, sabe de seu talento e reconhece que a lesão no pé tira um pouco de chances na disputa do Troféu Nebelhorn.
Mas não pense que ele se sente pressionado ou incomodado com isso. Afinal de contas, a temporada feita por Luiz no último ano o coloca em condições de igualdade com muitos competidores presentes.
Dono do melhor resultado brasileiro em Mundial Júnior (15º lugar conquistado neste ano), Luiz vinha numa crescente até torcer o pé novamente. Conquistou provas menores nos EUA, venceu com folgas a classificatória brasileira no Liberty e tinha tudo para terminar entre os oito primeiros na etapa de abertura do Junior Grand Prix em Riga, na Letônia.
"Não me sinto pressionado. A minha única preocupação foi "remachucar" o pé. Só que além disso eu acho que consigo ir e fazer o que eu posso", confirmou o jovem em bom português. Luiz nasceu em Londrina (PR) e morou até o início da adolescência no Brasil, antes de se mudar para os EUA.
E foi depois de efetuar o quádruplo toe pela primeira vez numa competição que Luiz voltou a sentir dores no pé (dores, aliás, que o incomodavam desde o Liberty). No salto seguinte ele torceu o tornozelo e precisou abandonar a disputa do programa longo.
A lesão não foi tão grave, mas exigiu cuidados para que ele se recuperasse o quanto antes e pudesse treinar antes do Nebelhorn. Confessou ter ido a vários médicos para achar o melhor medicamento e melhor fisioterapia. Não está 100% ainda, mas na raça ele vai competir mesmo assim.
"Mesmo com o pé machucado a expectativa é fazer o melhor que eu posso e terminar entre os seis primeiros mesmo se eu cair. Não vou conseguir fazer o pulo larsson, que é muito importante para ficar entre os primeiros, mas nós vamos arriscar e tentar fazer o quadruplo toe, que mesmo dando muito risco, garante muito ponto se realizar certo", admitiu.
Esta não é a primeira dificuldade enfrentada por Luiz na sua pequena carreira. Primeiro ele teve que driblar a crise administrativa da CBDG - só agora a entidade está apta para captar recursos e ajudar seus atletas. "Meus pais são o outro lado da conversa. Sempre tem a CBDG ajudando de um lado e tem meus pais do outro. E quando a CBDG teve problemas ficamos do nosso lado e meus pais me ajudaram muito", afirmou.
Depois, no início da temporada passada, ele trocou de treinador e de local de treinamento. Tudo para ficar mais perto da família. "Neste ano eu mudei de treinador, de treinamento e estar com a família facilita na competição. Sinto-me avaliado, o treino está melhor, avancei nos pulos e estou bem mais confiante do que no ano passado".
Dessa forma ele está apto não só para superar a lesão no pé, como também de vencer um duelo amistoso. Luiz é amigo do australiano Brendan Kerry e do filipino Michael Christian Martinez. Este último, inclusive, é uma das maiores ameaças do brasileiro (conforme você viu na segunda parte do Guia).
"Quem vai, vai. Sendo amigo a gente só espera que todo mundo faz o seu melhor. Mas por dentro a expectativa é que a gente vai e ganha. É um pouco difícil ver amigo que está um pouco abaixo do seu nível fazer melhor e ficar na sua frente. Mas isso é porque talvez treinaram melhor ou você esteve num dia ruim. No fim não pode ficar magoado ou triste com isso".
Amigos, amigos, negócios à parte. Até porque não é todo dia que um atleta pode fazer história no esporte do seu país, não é mesmo?
Confira abaixo o áudio da entrevista de Luiz Manella ao Blog Brasil Zero Grau:
Confira agora o vídeo do programa longo do brasileiro, que deu direito a ele de representar o Brasil no Troféu Nebelhorn:
Postar um comentário