Karolina do Brasil

Long Beach é uma cidade norte-americana com uma população estimada em 462.257 pelo censo de 2010 e conhecida por seu porto marítimo, sua proximidade com Los Angeles e pela efervescência étnica, graças à imigração de descendentes asiáticos pela costa do pacífico e por latino-americanos vindos do México e Porto Rico.

Karolina (Arquivo Pessoal)
Entretanto, é uma descendente de brasileira que deu o que falar na última temporada naquela cidade. E num local conhecido por seus dias de sol e pela praia, cujo clima é temperado e dificilmente fica abaixo do zero grau no inverno, foi na patinação artística no gelo que ela conquistou não só a população de Long Beach, mas também de todo os Estados Unidos.

A jovem Karolina Calhoun, 13 anos, filha de Nelia Calhoun, brasileira nascida em Senhora de Oliveira, uma pequena cidade mineira de pouco mais de 5 mil habitantes, tornou-se campeã norte-americana juvenil da modalidade na disputa realizada em Omaha, no Nebraska, no meio-oeste americano, entre os dias 19 e 27 de janeiro deste ano.

Foi uma disputa apertada. Foram duas fases até chegar na cidade de Omaha. Primeiro, Karolina teve que viajar até o Arizona, onde aconteceu a disputa regional (são nove regiões no país, cada uma com cerca de 80 competidoras). Classificada, ela foi até Utah, para as provas de sectionals (são três e ela também levou o ouro). De lá, apenas as quatro melhores de cada sectionals garantiram vaga para a disputa Nacional, no Nebraska.

A brasileira esteve ao lado de outras onze competidoras e surpreendeu. No programa livre (não há provas do programa curto na categoria juvenil), ela simplesmente colocou mais de dois pontos sobre a segunda colocada. Foram 49.25 pontos para Karolina contra 46.76 de Maxime Marie Bautista - Akari Nakahara completou o pódio.

"O campeonato nacional foi maravilhoso. Foi mesmo uma inspiração ver e estar junto dos melhores atletas americanos e assistir toda a competição.  Foi uma honra poder patinar no mesmo evento. A disputa foi grande mas estava muito bem preparada e fui com o intuito de trazer a medalha de ouro pra casa", afirmou a jovem por e-mail, em português.

Ela esteve lado a lado de Ashley Wagner, por exemplo, favorita à medalha nos Jogos Olímpicos de Sochi, em 2014. O feito também catapultou Karolina ao status de ídolo local em Long Beach. A imprensa local fez diversas matérias com a atleta-prodígio. Ganhou um certificado de reconhecimento pela cidade e, veja só, deu até palestra sobre o esporte num clube filantrópico local. Tudo isso com apenas 13 anos.

Mas para tristeza dos norte-americanos e alegria dos brasileiros, o resultado também mantém a evolução da patinação artística no gelo do Brasil, sobretudo entre as mulheres.

Tudo começou com a 26ª posição de Stephanie Gardner em 2007, nos Quatro Continentes (primeira atleta a disputar uma prova internacional pelo país), passou por Alessia Baldo e Elena Rodrigues até chegar em Isadora Williams, a pequena notável e que possui chances concretas de ir à Sochi. Todas elas podem ficar tranquilas: o Brasil já tem uma candidata a manter essa fantástica evolução.

É do Brasil!

O subtítulo acima provavelmente seria gritado por Galvão Bueno caso ele soubesse dessa história ou se por aqui não tivéssemos a monocultura do futebol. Isso porque a jovem, nascida nos Estados Unidos, não esconde de ninguém: quer representar o Brasil em competições internacionais.

(Arquivo Pessoal)
Situação idêntica da vivida pelas outras patinadoras brasileiras. Poderiam muito bem optar por competir pelos Estados Unidos, mas quiseram competir pela cidadania dos pais.

(Não cabe aqui aquela ideia preconceituosa de que só competem pelo Brasil porque não teriam espaço no país norte-americano: Isadora Williams teria muitas oportunidades, da mesma forma que Karolina também teria)

"Desde pequena sempre sonhei em representar o Brasil. A minha família sempre me apoiou nesta decisão e eu espero que em breve esteja preparada para isso", comentou a atleta, que prosseguiu. "Alguns anos atrás minha mãe entrou em contato com a CBDG e coletou algumas informações. Então eles já têm conhecimento de mim. Espero que quando estiver competindo no nível novice tenha oprtunidade de começar a patinar pelo Brasil", afirmou.

O objetivo maior, claro, serão os Jogos de Inverno de 2018, que acontecerão na cidade sul-coreana de Pyeongchang. Lá, a brasileira estará com 18 anos, idade ideal para um esporte tão duro e que exige dedicação exclusiva desde os primeiros anos da infância.

"Eu acredito que em 2018 estarei preparada para competir nas Olimpíadas", afirmou com a mesma serenidade e confiança demonstrada anteriormente por Elena Rodrigues e Isadora Williams neste mesmo espaço.

Os laços que a prendem por aqui são bem fortes mesmo. Ao contrário de Isadora, que ainda está aprendendo o português, Karolina fala a língua. Toda sua família materna mora ainda no Brasil e vez ou outra ela visita o país e até mesmo as férias ela costuma passar por aqui. 

"A família inteira da minha mãe vive no Brasil. Por isso ela sempre fez questão de manter e cultivar nossos laços com o país.  A minha primeira ida foi aos 3 meses de idade. Desde então, até começar a patinar seriamente, sempre passei minhas férias escolares no Brasil.  Julho e agosto sempre foram os meses favoritos para mim e o meu irmão que sempre adoramos nossas viagens aí", comentou.

Mas por enquanto ela segue treinando e competindo nos Estados Unidos. Afinal de contas, não dá nem para comparar a estrutura e a rotina encontrada lá com a que o Brasil pode oferecer a curto e médio prazo por aqui. Para o bem dela como atleta, que continue em terras americanas. 

Ainda que a torcida seja para os patinadores brasileiros Isadora Williams e Luiz Manella. "Tive o prazer de conhecer o Luiz em uma de suas visitas a Califórnia.  Adoro eles e acho que os dois têm uma chance real de conseguir uma vaga nas Olimpíadas em Setembro". 

Trabalho duro

Já disse neste espaço em outras vezes e repito novamente: não se engane pelos corpos perfeitos, figurinos deslumbrantes e todo o espetáculo midiático. Se tem alguma modalidade que exige demais dos seus atletas, este esporte é a patinação artística no gelo. 

(Arquivo Pessoal)
São horas e horas de treino para que as jovens de 10, 11 e 12 anos possam executar as piruetas perfeitas e os saltos magníficos que vemos ao vivo ou pela televisão. Imagina tudo isso num esporte de alto rendimento, onde qualquer erro pode custar a medalha, a vaga, o título. Exige não só preparo físico exemplar, mas também um preparo psicológico muito grande. 

Basta ver a rotina da brasileira Karolina. De simples brincadeira quando ela começou a patinar aos cinco anos, após ir a uma festa de aniversário de uma amiga num ringue de patinação, o esporte tomou conta praticamente de toda a sua vida. Adeus férias escolares no Brasil, adeus períodos de descanso e brincadeiras.

"Minha rotina como a de qualquer patinador é bem pesada.  Acordo muito cedo todos os dias para patinar antes de ir à escola. Depois da escola volto a treinar novamente no gelo por uma a duas horas nos dias que não tenho ballet ou exercícios de "off ice" para fortalecer e condicionar os músculos. A escola que frequento esse ano me libera das aulas de educação física e arte e isso me deixa com mais tempo para treinar", afirmou. 

Tudo para seguir evoluindo ainda mais na patinação. Ela já atinge o nível 4 (o mais alto) nas suas piruetas. Seu component score (nota na qual os patinadores partem de acordo com sua técnica e dificuldade) sempre foi muito elevado em relação às próprias rivais. "O meu desafio agora é mais voltado aos saltos (preciso do axel duplo e saltos triplos), mas força de vontade e dedicação com certeza não faltarão". 

Só assim ela pode sonhar em seguir os passos de Michelle Kwan, patinadora norte-americana e dona de duas medalhas olímpicas. A ex-atleta, prata em Nagano-1998 e bronze em Salt Lake City-2002, é a grande ídolo da pequena brasileira ("adoro ver seus vídeos e me inspiro nela para patinar não somente com o corpo mas também com o coração"), mas ela também se inspira em outra atleta, bem brasileira e que também fez história. 

"No Brasil sempre gostei da Daiane dos Santos. Ela sempre foi um exemplo de dedicação e talento pra mim". Quem sabe a música "Brasileirinho" não possa tocar também num ringue de gelo e fazer com que Karolina, e todos nós, tenhamos mais orgulho do nosso país, não é mesmo?

2 Comentários

  1. Izabella Reis6/5/13 11:01 PM

    MARAVILHOSA! Ela é linda e muito dedicada! Seu talento é de emocionar!!

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  2. e sim ! eu vi os videos dela na net . ela e maravilhosa . acredito muito que seja essa menina que vai trazer a primeira medalha olimpica de inverno para o Brasil ! na torcida !!!

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