Espelho, espelho meu...


Elena Rodrigues (à esq.) e Isadora Williams: passado e futuro da patinação feminina brasileira (Fotos: Arquivos Pessoais)

Isadora Marie Williams é a aposta brasileira na patinação artística para os Jogos de Sochi em 2014. Três anos atrás era Elena Rodrigues. Em comum entre elas o fato de serem norte-americanas com pais brasileiros, adorarem o Brasil, ainda aprenderem o português e conviverem com uma estrutura aquém de uma classificação olímpica.

Elena sucumbiu neste ano. Sem tempo, quase todo ele dedicado a sua pós-graduação, ela admite que agora "patina apenas por diversão", além de se aventurar como treinadora. Um pouco mais velha (apesar de ter apenas 22 anos), decidiu passar os patins para Isadora, seis anos mais nova e que vê no Brasil o país ideal para atingir o Olimpo. "Sempre quis participar de uma Olimpíada e acredito que patinar pelo Brasil este sonho será possível".

Possível não quer dizer fácil, claro. Elena Rodrigues, que já competiu em Mundial júnior pelo Brasil, já avisa Isadora para se preparar mentalmente. "É um esporte muito duro e se você não ter cabeça pode ter várias lesões".

Mesmo assim, Isadora sabe que precisa se preocupar com outras coisas. Sem muita verba, a atual patinadora brasileira precisa correr atrás de patrocínios. Sua mãe, Alexa, inclusive pediu desculpas pela demora em responder o e-mail ao Blog por conta dessa correria. Hoje ela lançou o seu site oficial e um link chama atenção: Em Apoio, você pode ajudar a fazer história e colaborar com a primeira patinadora olímpica do Brasil.

Veja: Eric Maleson garante esforço de fora para competidores da patinação e do luge

Mas para entender a caminhada de Isadora, vamos primeiro contar a história de Elena Rodrigues. Filha de pai brasileiro, ela nasceu e cresceu nos Estados Unidos. Foi apresentada à patinação artística com três anos, quando viu a irmã mais velha patinando. Aos nove começou a competir e por volta dos 17 anos recebeu o convite para representar o Brasil em eventos internacionais.

Ela atendia todos os requisitos: se não era brasileira, tinha descendência direta e nunca tentou fazer parte da equipe norte-americana antes de pensar em representar o Brasil. Com a bandeira brasileira, apesar de admitir não saber falar muito da língua, competiu no Mundial Júnior de 2008 (44ª colocada), o Campeonato dos Quatro Continentes em 2010 (35ª) e a Universíade de Inverno em 2011 (28ª).


Elena Rodrigues (Arquivo Pessoal)
A evolução nas colocações era crescente, mas ainda em 2011 ela se formou em estudos esportivos pela Universidade de Michigan e começou estudos para fazer Doutorado em fisioterapia. "Espero conseguir entrar nesse doutorado e isso tem me deixado muito ocupada. Eu não tenho nem recurso e nem tempo mais para treinar e manter o meu alto nível na patinação", lamentou.

Competição para ela, agora, apenas os intercolegiais entre as faculdades nos Estados Unidos. Ela também pensa em alçar outros voos. Começou a ensinar patinação artística na Universidade de Michigan e seu primeiro aluno irá competir já neste fim de semana na sua competição de estreia em torneio local. "Estou gostando muito disso".

Aliás, em 2010 Elena já deixava transparecer essa vontade de virar treinadora. "É difícil para mim conseguir ir para a Olimpíada como patinadora solo, mas eu gostaria muito que fosse possível criar um time patinação artística no gelo pelo Brasil e treiná-lo algum dia", afirmou na ocasião ao TCC Brasil Zero Grau, da Unesp Bauru.

Por tudo isso, num tremendo gesto de humildade, ela mesma resolveu abrir caminho para outros talentos brasileiros.

"Eu ainda sonho em competir todo o tempo, mas neste ponto meu corpo está ficando velho e treinamento intensivo não é uma boa opção de vida por conta da falta de orientação e tempo. Se eu for para o Doutorado e ter tempo de treinar diariamente, eu ficaria extasiada em poder participar de mais uma Universíade, mas isso é a cada dois anos. Eu acho que a CBDG agora tem que investir em Isadora e Luiz [Manella, patinador masculino] porque eles tem mais chances de irem para Sochi", concluiu a serena e educada jovem.

E é justamente neste ponto que começa a história da jovem Isadora Marie Williams como atleta brasileira. Norte-americana nascida em Marietta, no estado da Geórgia, o laço dela com o Brasil é através da mãe.

Seu primeiro contato com a patinação artística foi aos cinco anos, quando o pai a levou a um ringue de patinação na cidade onde moravam. "Eu adorei bastante a experiência e meus pais me colocaram num grupo para ter lições. Depois tive aulas particulares e patino desde então".

E patina tão bem que em 2009, mesmo com 13 anos, enviou um vídeo para a diretoria da CBDG com suas apresentações. Quase que imediatamente ganhou um lugar na equipe brasileira. Logo depois a Elena Rodrigues foi atrás de outros objetivos e a vaga ficou aberta para a "pequena notável" do Brasil.


Isadora Marie Williams (Reprodução/Facebook)
Os resultados dela realmente impressionam. Se em 2010, com 14 anos, ela foi a 41ª no Mundial Júnior, neste ano ela terminou na 16ª posição. Em etapas do Grand Prix Júnior ela foi 27ª em Dresden (Alemanha), em 2010, e a 18ª em Milão (Itália) em 2011. Já em 2012, nos campeonatos internacionais adulto dos Estados Unidos e em Oberstdorf (Alemanha) terminou na 5ª e 11ª posição, respectivamente.

"Eu não me surpreendi com meus resultados. Eles dependem da quantidade de esforço que coloco na minha prática. Quando treino e trabalho duro, e conto com a ajuda do meu técnico, sei que vou conseguir bons resultados", falou uma confiante Isadora.

Se a parte financeira ainda pesa, ela pelo menos pode dizer que tem um bom treinador por trás. O russo Andrei Kriukov, campeão olímpico, é o responsável pelo time brasileiro de patinação artística.

Mas mesmo assim será possível uma vaga já nos Jogos Olímpicos de Sochi, em 2014? "Eu acredito que se eu treinar e competir o máximo da minha capacidade, os Jogos não estarão longe do meu alcance", comentou.

Para isto, Isadora primeiro precisa garantir vaga na disputa do Mundial Adulto de patinação, que acontece em março de 2013. As 24 melhores patinadoras garantem vaga no torneio. Depois disso, só uma repescagem em julho para definir as últimas seis vagas.

Mas nem a ida ao Mundial está garantida ainda. Ela precisa somar 28 pontos no elemento técnico na pontuação dela no programa curto e 48 pontos de pontuação no programa longo. "É meu principal objetivo agora".

As apostas dela para conseguir essa pontuação são o Campeonato Golden Spin, na Croácia, agora em dezembro e o Quatro Continentes, no Japão, em Fevereiro. Tudo para seguir o caminho traçado por Elena Rodrigues e outras patinadoras que se aventuraram pelo Brasil.

Boa sorte, Isadora!

Abaixo, você confere dois vídeos: o primeiro com apresentação da Elena Rodrigues, o segundo com coreografias de Isadora Williams. Aproveite!

 


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